sábado, 23 de agosto de 2008

Cenas 20 e 21

CENA 20

Astrobaldo está largado em um banco de praça segurando uma garrafa de aguardente.

No chão estão caídas outras duas garrafas de aguardente vazias.

Astrobaldo está pensativo. De vez em quando toma goles da bebida. Um homem desconhecido senta ao lado dele, sem ter nada nas mãos. Toca no ombro de Astrobaldo.

HOMEM DESCONHECIDO
Dia difícil, hem rapaz...
ASTROBALDO
(extrema embriaguez, fala com dificuldade de articular as palavras)
Quem é você?
HOMEM DESCONHECIDO
Apenas um amigo.
ASTROBALDO
Amigo um carag-lhi-o. Nunca vi mais gordo...
HOMEM DESCONHECIDO
Muitos rostos cruzam por você todos os dias. Você deveria prestar mais atenção nestas pessoas...
ASTROBALDO
Ninguém presta atenção em desconhecidos.
HOMEM DESCONHECIDO
Mas isto não quer dizer que um desconhecido nunca preste atenção em você!
ASTROBALDO
Eu tô me lixando. Tõ nem ai, véio, nem aí. Quero que vão todos se ffff...oo-der.
HOMEM DESCONHECIDO
(Acha graça da reação de Astrobaldo. Ri descontraído)
Você está apenas estressado.
ASTROBALDO
Cê nãum tem o q fazer naum? me deixa em paz!
HOMEM DESCONHECIDO
Conversar não é fazer alguma coisa? (pausa) Olha, eu vim te ajudar...
ASTROBALDO
(pega na camisa do desconhecido, aproxima o rosto do rosto dele. O desconhecido permanece onde está)
Você é maluco? por acaso tá bêbado? acha que eu sou abestalhado?
HOMEM DESCONHECIDO
(pega na nuca de Astrobaldo, aproxima-se e fala olho no olho, com convicção, voz firme, de imposição)
Sei que você pode ser melhor do que o Lord da Guitarra, basta que alguém acredite em você.

Astrobaldo deita o rosto no peito do desconhecido e começa a chorar. O desconhecido consola Astrobaldo como se fosse um irmão. Astrobaldo para de chorar e volta ao seu lugar. O desconhecido passa o braço por trás de Astrobaldo e põe a mão no ombro dele.

HOMEM DESCONHECIDO
Aquela guitarra não era legal... Não deveria estar preocupado com ela.
ASTROBALDO
Mas eu precisava dela. Não posso aprender a tocar sem ter uma guitarra...

O desconhecido pega uma guitarra que está encostada no banco, ao seu lado. Mostra-a a Astrobaldo.

HOMEM DESCONHECIDO
Talvez goste de ver isto aqui.

Entrega a guitarra a Astrobaldo. Astrobaldo coloca a garrafa de aguardente no chão e pega a guitarra. Analisa com cuidado.

HOMEM DESCONHECIDO
Não vai tocar nada?

Astrobaldo toca algumas notas na guitarra.

Astrobaldo vira-se para falar com o desconhecido. Não há ninguém com ele. Olha para os lados, procurando. Levanta-se (trôpego) com a guitarra nas mãos. Vira-se em 360 graus procurando o desconhecido e não acha ninguém. Olha para a guitarra e começa a tocar uma música que exige muita habilidade técnica. Fica absorto, "viaja" na música e não se preocupa com quem está ao redor. Ele agora toca a última nota.

SEI NÃO
(muita admiração)
Meu irmão, tu toca pra carái!!!!!!
Astrobaldo para de tocar e olha para seu interlocutor.
Sei Não está sentado na grama, pernas recolhidas junto ao corpo e braços ao redor dos joelhos, com Jorge ao lado. Jorge está com o corpo deitado, os cotovelos no chão suspendendo o dorço para poder olhar para Astrobaldo. Ambos estão apenas com a roupa do corpo, e não há nenhum objeto no lugar onde estão.


Astrobaldo não tem nada nas mãos, mas está com os braços e dedos posicionados como se tivesse tocando uma guitarra.

ASTROBALDO
Você gostou da música? é do Lord da Guitarra...
SEI NÃO
Esse cara é de onde?
ASTROBALDO
Nunca ouviu falar no Lord da Guitarra? é o maior guitarrista de todos os tempos!
SEI NÃO
Nunca ouvi, mas pelo geito que você fala ele deve ser muito bom. Qual o seu nome?
ASTROBALDO
Astrobaldo. E o seu?
SEI NÃO
Sei Não.
ASTROBALDO
Como assim?
JORGE
Ele nunca sabe de nada, por isso agente chama ele de Sei Não.
ASTROBALDO
E o seu, como é?
JORGE
Jorge.

Sei Não levanta e dirige-se até Astrobaldo, Jorge permanece onde está.

SEI NÃO
Onde aprendeu a tocar?
ASTROBALDO
Na verdade eu nunca aprendi. Nunca tive instrumento. Agora a pouco um sujeito estranho me deixou com esse aqui e sumiu. De vez em quando passo o dia vendo vídeos do Lord e treinando em um cabo de vassoura... Cara... Isso aí é uma camisa de força?
SEI NÃO
Acordei hoje e estava com esta roupa. Não me lembro onde dormi e nem porque estou vestido assim, mas que importa? A roupa que eu visto não afeta meu comportamento com as pessoas.

Jorge também se levanta e se aproxima, entrando na conversa. Não há nada além da grama no local onde estavam.

JORGE
Ele de vez em quando some e aparece dias depois com uma nota de "cem pilas", mas nunca deixa de usar esta roupa. Nunca descobrimos onde vai e nem porque volta assim.
ASTROBALDO
Faz muito tempo que vocês são amigos?
SEI NÃO
Sei lá...
JORGE
Faz um tempinho.
SEI NÃO
O que vai fazer, agora que conseguiu uma guitarra?
ASTROBALDO
Vou estudar um pouco mais e depois quero montar uma banda.
SEI NÃO
Nós poderíamos tocar com você. Se você quiser, é claro...
ASTROBALDO
Vocês sabem tocar?
SEI NÃO
Eu toco bateria. Na falta de outro músico ele aqui pode tocar baixo, não é Jorge?
JORGE
Vocês estão de brincadeira, né...
ASTROBALDO
Vocês têm instrumento?
SEI NÃO
Claro que temos, você não viu? estão todos ali!

Aponta para o lugar onde estava junto com Jorge. Lá estão uma bateria completa e um baixo dentro da capa.

ASTROBALDO
(meio em dúvida)
Pô cara, eu nem tinha visto!
SEI NÃO
Quando vamos começar os ensaios?
JORGE
Pera aí, pessoal...
Jorge aponta para a garrafa de aguardente que Astrobaldo tinha colocado no chão.
JORGE
...Não consigo fazer nada enquanto ainda estiver sóbrio. Ali ainda tem alguma coisa?

CENA 21

Astrobaldo acorda. Está de ressaca, tem muita dificuldade para abrir os olhos e levantar. Está vestido com a roupa do dia anterior. Olha para o chão e vê um lençol extendido e desarrumado, com um monte de roupas fazendo um travesseiro. Estranha. Presta mais atenção e vê um de seus sapatos enxarcado de água. Levanta-se e vai o objeto, cheira e descobre que é urina. Fica com muita raiva, mas ainda não entendeu nada, está desconcertado.

Vai até a sala, andando devagar.

Está tudo muito bagunçado: CD no chão, garrafas de bebida e copos espalhados, o chão todo sujo e bebida derramada. Sei Não está deitado no sofá, e no chão ao seu lado tem uma poça de vômito.

Astrobaldo não gostou do que viu. Fita a cena por um tempo depois vira-se e vai para o banheiro. Jorge está sentado no vaso com uma revista na mão, as calças arreadas até os joelhos e a porta totalmente aberta.

JORGE
A aí, meu irmão, dormiu bem?
ASTROBALDO
O que vocês estão fazendo em minha casa?
JORGE
Agente tava biritando e você nos convidou pra morar aqui.
ASTROBALDO
(muito espantado)
O quê?
JORGE
Brincadeira. (risos) Sei lá, agente simplesmente resolveu vir pra cá e estamos aí.
ASTROBALDO
O que aconteceu na minha sala?
JORGE
Um furacão resolveu nos visitar de madrugada. Você tava travado...
ASTROBALDO
Aquilo no meu sapato é urina?
JORGE
Foi mal, cara, eu estava muito louco...
ASTROBALDO
Muito louco? você mija no meu sapato e diz que estava muito louco? eu não acredito...
JORGE
Véio, posso te pedir um favor?
ASTROBALDO
(pensando no que fazer e falando consigo mesmo)
...Isso não pode estar acontecendo comigo... é praga que andaram jogando em mim... eu mereço isso, eu mereço isso...
JORGE
É que tem coisas que só dá pra fazer sozinho, sabe... com outro cara me olhando eu fico constrangido e o negócio não consegue descer...
ASTROBALDO
Como é!!??
Jorge apenas encara Astrobaldo e dá de ombros. Astrobaldo olha para ele mas não resiste e vira-se para sair.
JORGE
Ô Astro...
ASTROBALDO
(apenas a voz, irritado)
Que foi?
JORGE
Você tem revista de mulher pelada?

Astrobaldo retorna, está muuuuito irritado, tenta dizer algum desaforo, mas vira-se sem falar nada e sai. Jorge permanece sentado no vaso.

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quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Cenas 16 a 19

CENA 16

Astrobaldo entra na gráfica, seguindo para o setor onde trabalha. Quando passa pela secretária do coordenador geral esta o chama. E pára gentilmente para escuta-la.

SECRETÁRIA DE EDICLÉCIO

Baldo, o senhor Ediclécio quer falar com você antes de sair. E o homem está brabo!

Astrobaldo segue imediatamente para a sala de Ediclécio.

Astrobaldo entra na sala de Ediclécio. Este está sentado em uma cadeira alta (de forma que nem mesmo sua cabeça aparece), virado para a parede. Astrobaldo permanece de pé.

EDICLÉCIO

Astrogildo...

ASTROBALDO

Astrobaldo, senhor...

Ediclécio gira a cadeira e encara Astrobaldo.

EDICLÉCIO

(Tom de superioridade, humilhando o interlocutor totalmente)

N-ã-o m-e i-n-t-e-r-e-s-s-a! (...) Astro-GILDO, Astrobal-DE, Atro-BURRO ou seja lá o que for, é tudo a mesma INCOMPETÊNCIA! você sabe quem me ligou hoje de manhã pela enésima vez? O Lourenço, lá do Centenário. Alguma vez você já teve de lidar com um cliente furioso?

ASTROBALDO

Não, senhor!

EDICLÉCIO

(Batendo na mesa com muita força e gritando com raiva)

Você acha que ele fica feliz em ouvir nossas desculpas? Já pensou, se ele perde a paciência e resolve cancelar a assinatura do jornal? você sabe o que significa perder um cliente, Astro-grilo!?

ASTROBALDO

Astrobaldo, senhor...

EDICLÉCIO

(interrompe Astrobaldo sem prestar atenção no que disse)

você já viu uma empresa sobreviver sem clientes? você por acaso sabe o que é ter que atender um cliente furioso porque(fala soletrando e enfatizando cada sílaba e aumentando o tom de voz continuamente) a por-ra de um fun-cio-ná-rio não sa-be en-fi-ar a por-ra de um jor-nal na por-ra de uma ca-i-xa de cor-re-i-os!? Esse trabalho é difício para você, Astro-galo?

ASTROBALDO

Astrobaldo, senhor...

EDICLÉCIO

Por acaso eu perguntei o seu nome?

ASTROBALDO

Não, senhor...

EDICLÉCIO

Então responda a pergunta que fiz!

ASTROBALDO

Não, senhor!

EDICLÉCIO

Não o que!?

ASTROBALDO

Não é difícil, senhor... pelo contrário, sei que posso fazer muito bem, e...

EDICLÉCIO

(berrando o máximo que pode)

Então porque você jogou o jornal do seu Lourenço no meio da rua?

ASTROBALDO

Eu vi o portão se abrindo, e...

EDICLÉCIO

E isso é lá motivo para correr? Porque não entregou o jornal na mão dele?

ASTROBALDO

É que eu pensei que fosse o Alemão...

EDICLÉCIO

E quem é esse Alemão?

ASTROBALDO

É o filho dele... Aquilo não é gente não, seu Ediclécio! Se me pegar de geito é perigoso até me matar...

EDICLÉCIO

Nossa empresa não tem nada a ver com seus desentendimentos pessoais. Hoje você volta lá, com Alemão ou sem Alemão, e se não entregar o jornal quem vai acabar te matando sou eu!

ASTROBALDO

Tem como mandar o Josenildo entregar não, seu Ediclécio?

EDICLÉCIO

Está ficando louco? Acha que eu vou tirar o Josenildo aqui do Centro para ir lá no Centenário entregar um único jornal? Olhe, suma da minha frente, faça o favor de cumprir com sua obrigação e outra: se eu ouvir um tantinho assim (faz gesto com a ponta dos dedos indicador e polegar) de você eu te boto no meio da rua sem sequer avaliar o motivo. Agora saia!

Astrobaldo sai da sala.

CENA 17

Astrobaldo dirige-se à secretária.

ASTROBALDO

Ei, Aninha, você sabe me dizer se o pagamento sai hoje?

SECRETÁRIA DE EDICLÉCIO

Meu lindo, tu leva uma "comida de rabo" destas e ainda sai pensando em dinheiro?

ASTROBALDO

É que eu tô precisando muito, Aninha, é caso de vida ou morte... juro!

SECRETÁRIA DE EDICLÉCIO

Vai sair no final da tarde, se você não acabar de novo com o bom humor daquele filho de Cristo ali dentro!

ASTROBALDO

Filho de Cristo? aquilo é o assistente pessoal do Diabo, isso sim! Ei, me arruma R$50,00 até o fim da tarde?

SECRETÁRIA DE EDICLÉCIO

Se você ver alguém aqui dentro com uma nota de R$50,00 me avise que agente assalta ele com minha lixa de unha.

ASTROBALDO

Eu tô falando sério, Aninha, por favor. É só você quem pode me ajudar! Só até o fim da tarde, vai... Eu pago R$55,00...

SECRETÁRIA DE EDICLÉCIO

Olha, eu vou quebrar o seu galho, mas só porque você me ajudou a pintar o portão de casa naquele dia.

A secretária de Ediclécio retira uma nota de R$50,00 da carteira e entrega a Astrobaldo. Ele recebe a nota com entusiasmo e dá um beijo na bochecha da secretária.

ASTROBALDO

Aninha, você me salvou! você é um anjo!

SECRETÁRIA DE EDICLÉCIO

Anjo nada, querido. Pague meu dinheiro no final da tarde, com juros, ou então você vai ver no que eu vou me transformar...

Astrobaldo se afasta da secretária e sai do recinto.

CENA 18

câmera segue Astrobaldo.

Astrobaldo pedala pelo centro da cidade, apressado. Os jornais que ele deveria estar entregando estão todos no bagageiro. Para na frente da loja de instrumentos musicais, ansioso larga de qualquer geito a bicicleta na calçada, deitada no chão, e entra correndo na loja.

Enquanto Astrobaldo entra na loja, um ladrão (visível no segundo plano) levanta a bicicleta e sai pedalando a toda velocidade.

Vendedor da loja de instrumentos

(Grita, enquanto sai do balcão na direção da porta)

Ei,estão roubando sua bicicleta!!!!

Astrobaldo toma um susto, vira-se imediatamente e corre em direção à porta da loja.

Astrobaldo sai da loja correndo desesperado, e segue na direção do ladrão. O vendedor sai e fica na porta, acompanhando de longe. Astrobaldo persegue o ladrão até determinado ponto, gritando:

ASTROBALDO

(a todo pulmão)

Pega ladrão! pega ladrão!

Enfim descobre que é inútil e pára, colocando a mão na cabeça em situação de visível desespero: Ele não sabe mais o que fazer.

CENA 19

Ediclécio está sério, encarando Astrobaldo e procurando a melhor maneira de colocar as palavras. Há um silêncio forte na sala. Astrobaldo está em pé, na frente da mesa de Ediclécio.

EDICLÉCIO

(o tom de voz é rigoroso, severo, mas não há excesso. Em momento algum do diálogo Ediclécio grita com Astrobaldo)

Onde isso aconteceu?

ASTROBALDO

(sem geito, acanhado e temeroso)

No centro da cidade.

EDICLÉCIO

O que você estava fazendo lá no centro da cidade, Astrobaldo? sua área não era o Bairro Centenário?

ASTROBALDO

Precisava fazer umas coisas...

EDICLÉCIO

O que?

ASTROBALDO

...tinha que comprar uma guitarra...

EDICLÉCIO

(silêncio)

ASTROBALDO

(Silêncio)

EDICLÉCIO

Porque não deixou para comprar esta guitarra depois de terminar seu trabalho?

ASTROBALDO

(gaguejando, muito inseguro mas tentando colocar o máximo de persuação no tom de voz)

.........................é que.......................alguém podia passar antes..............e................

EDICLÉCIO

sei...

Astrobaldo

eu só tinha dinheiro para comprar aquela guitarra, sabe............era a mais barata...........

EDICLÉCIO

Hum, sei...

Astrobaldo

sei que não era lá grande coisa...........................mas........eu estou precisando muito............

EDICLÉCIO

sei...

Astrobaldo

eu realmente preciso de um instrumento para aprender a tocar.....é meu sonho!

EDICLÉCIO

É o seu sonho... (silêncio) ... mas pelo menos você entregou os jornais...

ASTROBALDO

(silêncio)

EDICLÉCIO

(encarando Astrobaldo, entendendo e sem querer acreditar...silêncio...)

ASTROBALDO

(silêncio)

EDICLÉCIO

(Tentando se controlar, buscando uma falça gentileza e usando uma hipocrisia fora de limites)

Você não quer se sentar?

Astrobaldo, meio hesitante, puxa a cadeira e senta na mesa com ediclécio.

ediclécio

Vou pedir para Ana trazer um café, você quer também? espere um momento.

Pega o telefone e disca para a secretária.

EDICLÉCIO

Ana, traga-me um café, por favor. E outro para Astrobaldo também.

Ediclécio aguarda o café, calado e pensativo, vez em quando olhando para Astrobaldo. Em poucos segundos a secretária entra na sala, com uma bandeja na mão contendo uma garrafa de café, duas xícaras cada uma com um pires, duas colheres de chá e um pequeno açucareiro.

Ela coloca as xícaras na mesa, serve a ambos. Ediclécio pega a sua e prova imediatamente, Astrobaldo fica apenas olhando.

SECRETÁRIA DE EDICLÉCIO

Está bom de açúcar, seu Ediclécio?

EDICLÉCIO

(curto e grosso)

Está bom, pode ir.

A secretária passa um "rabo de olho" em Astrobaldo e deixa a sala, carregando a bandeja com a garrafa e o açucareiro. Astrobaldo timidamente pega a sua xícara e prova o café.

EDICLÉCIO

(perdendo a paciência mas sem engrossar)

Astrobaldo, você sabe quanto isso tudo vai custar a nossa empresa?

ASTROBALDO

Eu... posso pagar...

EDICLÉCIO

Como?

ASTROBALDO

O dinheiro da guitarra... não deu tempo de comprar... naquela justiça, confusão, o senhor sabe...

EDICLÉCIO

Está aí com você?

Astrobaldo bota a xícara na mesa, pega a carteira e tira o dinheiro. Com as mãos trêmulas, devagar ele entrega o dinheiro a Ediclécio. Ediclécio pega as notas e conta-as uma a uma, cuidadosamente e sem pressa. Encara Astrobaldo.

EDICLÉCIO

Isso não dá nem para pagar a bicicleta. E você ainda deve os jornais, o prejuízo moral de ter duzentos clientes insatisfeitos com o nosso serviço, mais as horas de trabalho da pessoa que vai ter de ir lá entregar os jornais por você. Infelizmente, eu vou ter que ficar com o dinheiro do seu salário. E quer saber? ainda bem que não fichei sua carteira, porque gente como você não merece ser lembrado como alguém que já se deu ao luxo de prestar nossos serviços. Agora, para você não sair por aí dizendo que eu sou um chefe ruim, vou te dar vinte reais para você poder encher a cara, e se tiver o mínimo de juízo nunca mais na sua vida bote os pés na minha gráfica. (curto, grosso, taxativo e ignorante) Agora, suma daqui!


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Cenas 11 a 15

CENA 11

Astrobaldo está sentado no chão com as pernas recolhidas e os braços envolvendo os joelhos, cabeça entre as pernas, chorando.

CENA 12

Astrobaldo encosta a bicicleta no meio fio e dirige-se a um orelhão, pega um cartão, insere no aparelho e retira o fone do gancho. Som do tom de discar em evidência sobre o áudio ambiente.

Astrobaldo disca para Edjanete.

fx: Som da multifreqüência da discagem em evidência sobre o áudio ambiente.

Astrobaldo espera Edjanete atender.

CENA 13

O telefone toca na casa de Edjanete. Ouve-se bocejos de Edjanete e uma voz masculina. Ambos estão incomodados por terem sido acordados naquele momento. No chão estão as roupas jogadas de qualquer maneira, cigarros em um cinzeiro, duas taças de vinho sendo que uma delas está virada, um litro de vinho pela metade e embalagens de preservativo. Edjanete se aproxima do aparelho e atende a chamada.

EDJANETE

(Voz preguiçosa, de quem acabou de acordar naquele exato momento)

Alô! quem tá falando?

ASTROBALDO

Jane...é o Astrobaldo...

EDJANETE

(Voz ligeiramente irritada, em tom de censura)

E isto é hora, Astrobaldo?

ASTROBALDO

Já são quase dez horas...

EDJANETE

(Interrompendo)

Eu sei, aqui em casa tem relógio! Você não sabe que eu sempre acordo tarde?

ASTROBALDO

É que eu estava meio mau, você sabe, né... precisava ouvir sua voz!

Homem com edjanete

(Só a voz)

Quem é, amor?

EDJANETE

(Com a mão tapando o fone, falando para o companheiro)

É o Astrobaldo, aquele que eu te falei outro dia.

HOMEM COM EDJANETE

(Só a voz. Edjanete volta a falar com Astrobaldo)

Ah, sei...

ASTROBALDO

Tem alguém aí com você?

EDJANETE

Meu primo, que chegou de viagem ontem à noite.

HOMEM COM EDJANETE

(Só a voz, tom de voz de quem está tentando ser carinhoso)

Deixe este cara pra lá e vem aqui conversar comigo, vem!

ASTROBALDO

O que estava aí na semana passada já foi embora?

EDJANETE

Olha, eu vou ter que desligar...

ASTROBALDO

Ele já conhece a cidade? Eu tenho um amigo que poderia nos levar aos pontos turísticos, sei lá, agente podia se divertir um bocado!

HOMEM COM EDJANETE

(Só a voz, em tom de impaciência)

Dispensa logo esse cara!

EDJANETE

É, pode ser... Outra hora agente conversa, ok?

ASTROBALDO

Vamos marcar...

EDJANETE

Outra hora...

HOMEM COM EDJANETE

(Toma o telefone da mão dela)

Ei cara, agente está ocupado agora, vê se liga mais tarde, ok!

O telefone é desligado. Astrobaldo ouve o tom de encerramento da chamada e então recoloca o telefone no gancho.

CENA 14

Astrobaldo trafega pelo centro da cidade de bicicleta, com o bagageiro da bicicleta vazio. Para em frente a uma loja de instrumentos musicais e fica olhando a vitrine.

Mostra os intrumentos musicais dentro da vitrine. ao chegar em uma das guitarras mostra este instrumento em detalhes.

Astrobaldo está em pé de frente com a vitrine, com o rosto encostado no vidro e as mãos espalmadas ao lado da cabeça, observando uma das guitarras. A bibicleta em pé logo atrás dele, apoiada no meio fio.

câmera dentro da loja, mostrando a imagem de dentro para fora, com os instrumentos em primeiro plano e astrobaldo ao fundo através da vitrine contemplando o instrumento.

Astrobaldo desgruda o rosto da vitrine e volta para a bicicleta, monta e vai embora.

CENA 15

Astrobaldo está sentado numa escrivaninha, com a luz acesa, contando dinheiro. O dinheiro está guardado em uma caixa de sapatos, também em cima da escrivaninha. Há um caderno aberto com anotações de valores em uma tabela, e uma calculadora. Ele verifica as informações do caderno e faz alguns cálculos. Fica feliz com o resultado, comemora e fala com o pôster do Lord da Guitarra.

ASTROBALDO

(animado, comemorando e eufórico)

Consegui! Consegui, cara, consegui! Se o senhor Ediclécio me pagar amanhã, amanhã mesmo eu vou comprar aquela bendita guitarra!

Levanta-se e vai até o pôster, conversar cara a cara com seu ídolo.

ASTROBALDO

(apontando e gesticulando para a imagem, em tom de discurso)

Prepare-se para ouvir falar no maior guitarrista da história do rock, depois de você, é claro! O dia de amanhã entrará para a história como o início de uma caminhada vitoriosa rumo à glória, a fama e ao sucesso!

Enquanto pronuncia a última frase Astrobaldo dá um soco na parede.


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segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Cenas 6 a 10

CENA 6

Astrobaldo prepara um café, frita dois ovos e então senta na mesa para comer com pão. A cena deve ser detalhista, com o personagem fazendo a seqüência completa, realmente, de forma que o resultado seja o mais natural possível.

CENA 7

Astrobaldo se prepara para sair. Abre o guarda roupas e escolhe uma farda. Pegaum ferro de passar e usa a cama como apoio para engomar. Depois se veste e sai.

CENA 8

Astrobaldo coloca a chave na fechadura e gira. Dar evidência ao som da chave entrando na fechadura e abrindo o trinco.

Astrobaldo abre a porta, sai calmamente e então a fecha. Manter a câmera filmando a porta fechada por alguns segundos. Dar evidência ao som da chave entrando na fechadura e fechando o trinco.

CENA 9

Astrobaldo se desloca pela rua de bicicleta, entregando jornais. Algumas pessoas passam por ele, e trocam cumprimentos. Tomar cuidado para que Astrobaldo se comporte como alguém simpático.

Astrobaldo se desloca pela rua de bicicleta, entregando jornais. Algumas pessoas passam por ele, e trocam cumprimentos. Tomar cuidado para que Astrobaldo se comporte como alguém simpático.

CENA 10

O portão da casa do Alemão está fechado. O mudo da casa é alto e o portão de madeira não permite ver o interior. Ouve-se ruídos do movimento dentro da casa.


Astrobaldo está de pé, e segura um jornal com mãos trêmulas.

Astrobaldo em frente ao portão, visivelmente assustado, segura um jornal com as mãos trêmulas. A bicicleta está encostada no meio fio, logo atrás dele.

Uma chave é colocada na fechadura e o trico do portão é aberto. Dar evidência ao som da chave entrando e abrindo o trinco.

Astrobaldo consegue ouvir o barulho do trinco do portão sendo aberto, e reage temeroso, exitando entre se manter no local ou fugir. Na medida em que a chave gira no trinco ele recua até a bicicleta.

O portão se abre, sem pressa, e a princípio sem mostrar quem está dentro da casa.

Quando o portão se abre Astrobaldo larga o jornal no chão, apressadamente sobre na bicicleta e foge do lugar, sem olhar para trás. O pai do Alemão sai da casa, vê Astrobaldo fugindo e o jornal no chão. Sem entender o que está acontecendo, ele observa a fuga e sem tirar os olhos de Astrobaldo, abaixa-se para pegar o jornal. Com o jornal em mãos, levanta-se e continua observando Astrobaldo fugir.

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Cenas 1 a 5

CENA 1

Astrobaldo está em cima do palco, fazendo uma apresentação. O público está empolgado, interagindo com a música. Ele toca muito bem, faz solos estonteantes e leva as pessoas ao delírio. Algumas mulheres da platéia desmaiam, alguns "batem cabeça", todos gritam por ele. A euforia é crescente, o show está chegando ao seu ápice. Quando a música termina, o público está ainda em êxtase. Astrobaldo pega a guitarra, segurando com uma das mãos e abre os braços, saudando o público que grita seu nome. Ele também está empolgado. Entrega o instrumento para um dos "holdings" e se joga do palco para o público.

CENA 2

Astrobaldo cai da cama, bate no chão e acorda. Levanta-se devagar, recuperando-se do choque e olhando para o pôster do Lord da Guitarra pregado na parede, com admiração. Aponta para o pôster, como quem intima, e dialoga com a imagem.

ASTROBALDO

Um dia... Um dia eu vou ser que nem você... você vai ver!!!

Vira-se para sair do quarto, mas continua apontando para o pôster na parede, querendo deixar muito clara a sua convicção de cumprir a promessa.

CENAS 3 A 5

Astrobaldo usa o banheiro para fazer as necessidades tradicionais...

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Proposta do filme (argumento)

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Astrobaldo sonhava tocar guitarra mas seu salário de jornais mal dava para pagar as despesas. Após uma tentativa frustrada de juntar dinheiro para comprar o instrumento, e agora sem emprego, saiu desconsolado pelos bares da cidade bebendo e gastando o que sobrou das economias. Na sarjeta encontra um desconhecido que lhe vende uma guitarra usada. Feliz começa a tocar ali mesmo, mas é abordado por um bêbado e um mendigo, que afirmam verem ele com as mãos vazias, sem instrumento algum. o grupo então decide criar uma banda, onde ninguém tem instrumento. Como vocalista escolhem Cida, uma jovem muda. A banda, agora completa, sai pela cidade aprontando mil peripécias enquanto procuram encontrar um geito de se apresentarem para o grande público.

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Argumento: Edson "Chuck"

Roteiro: Samuel Hermínio

Direção: Samuel Hermínio

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