quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Mercahdising do filme terá livros e CD

Toda atividade tem um custo. Trabalhar pelo Audiovisual em uma cidade que não tem tradição de assistir filmes em locais públicos (como é o caso dos cinemas) pode se tornar impossível. É consenso que tentar cobrar pela exibição é inviável. Ninguém tem a fantasia de ganhar dinheiro com filmes, mas é necessário garantir pelo menos o retorno do investimento, na intenção de sair com o caixa "zerado". Como proposta, o grupo está debatendo a possibilidade de investir em mercahdising, aravés da venda de dois livros - um com o roteiro e outro com o diário de produção - e um DVD. Está sendo cogitada ainda a possibilidade de incluir um cd com a trilha sonora.

Clique aqui e veja os detalhes do roteiro

Roteiro está concluído e revisado

O roteiro do filme está concluído. O final foi modificado, porque o anterior estava muito rápido e confuso. Na verdade, duas cenas foram acrescentadas. O texto foi dividido em duas versões, uma contendo as informações de câmera (planos) e a outra mais limpa, apenas com a história. Clique aqui e veja os detalhes do roteiro.

Filme será licenciado em Creative Commons

O filme Sonoro Silêncio será distribuído em licença creative Commons By-nc-nd. A licença permite que qualquer pessoa possa exibir o filme, sem necessidade de permissão adicional, desde que não seja modificado nem usado para fins que visem lucro. Veja os detalhes clicando abaixo:


Creative Commons License
Sonoro Silêncio by Samuel Hermínio e josé Edson Chuck is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 2.5 Brasil License.

Clique aqui e veja os detalhes do roteiro

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Cenas 48 a 52

Cena 48

Jorge, Sei Não e Astrobaldo acabaram de entrar. Sei Não e Astrobaldo estão levemente adiantados em relação a Jorge. Jorge tranca a porta e disfarçadamente retira a chave.

Astrobaldo e Sei Não observam o ambiente.

Sei Não e Astrobaldo saem de perto de Jorge, ficam olhando os objetos da sala.

ASTROBALDO

Quem é o dono desta casa?

JORGE

Alguém muito especial, principalmente para você...

ASTROBALDO

Como assim?

JORGE

Está vendo aquela porta ali? (aponta para a porta do quarto, fechada. Movimenta-se na direção do sofá). Atrás dela está a mulher da sua vida... Te esperando!

Astrobaldo está um misto de desconcertado e emocionado.

ASTROBALDO

A... A... A Jane... Está lá???

Jorge vai devagar até o sofá e se joga, sentando-se muito à vontade.

JORGE

Sim, ela mesma. E então, vai ficar aí me olhando??? acha que ela vai te esperar o dia todo???

Sei Não está atrás do sofá, apoiando o corpo com os cotovelos (como quem observa a rua na janela).

Astrobaldo está inseguro, olha para a porta e vacila por um segundo, depois se movimenta.

Astrobaldo vai na direção da porta.

Astrobaldo pega na maçaneta. A chave está colocada do lado de fora, mas o trinco está destrancado. Abre a porta, deixando uma brecha suficiente para olhar o que tem lá dentro.

Quarto

O quarto está escuro, iluminado apenas pela luz que vem de fora. Astrobaldo coloca a cabeça pela brecha e depois passa o corpo, encostando a porta atrás de si e se apoiando nela. Uma luz se acende, a partir de um abajur localizado do outro lado do aposento.

Edjanete está deitada na cama, pernas cruzadas e fumando. Há um cinzeiro próximo a ela. Veste uma minisaia e uma blusa com decote, buscando ser o máximo provocativa. Está séria, não encara Astrobaldo de frente.

EDJANETE

(friamente)

Então você é o meu admirador?

Astrobaldo vem se aproximando lentamente, até se sentar na pontinha da beirada da cama.

ASTROBALDO

Eu... Eu... Eu acho que amo você!

Edjanete olha Astrobaldo pela primeira vez, dá um sorriso malicioso e sarcástico. Levanta-se, leva consigo o cinzeiro para a beirada da cama. Passeia pelo quarto, anda devagar e sensual, rebolando. Para de frente com a parede. Astrobaldo a acompanha com os olhos.

EDJANETE

Me ama... (risos sarcásticos) ... você acha que me ama?

Vai na direção de Astrobaldo.

Pega-o pelo queixo e encosta o rosto no dele, olho no olho. Ela está séria. Dá uma baforada lenta e volumosa da fumaça do cigarro, bem no rosto de astrobaldo.

EDJANETE

Você ainda é um franguinho!

Afasta-se de Astrobaldo, vira as costas para ele. Dá gargalhadas expontaneamente. Fica pensativa. Vira-e para

EDJANETE

Acho que você se enganou sobre mim...

Vira-se para Astrobaldo e o encara.

EDJANETE

Será que você gosta mesmo de mim...ou daquilo que eu pareço ser?

Edjanete volta a andar, lentamente. Vai até o cinzeiro e deposita as cinzas do cigarro.

EDJANETE

(olhando para a parede, pensativa)

Preciso te falar uma coisa...

Vira-se para Astrobaldo, chega a meia distância de onde está.

Levanta a saia pelos lados, de modo que a parte da frente cubra as áreas de interesse. Astrobaldo

Astrobaldo está excitado, nervoso.

Edjanete tira a calcinha, e deixa-a cair até as pernas.

Astrobaldo está enlouquecendo.

Edjanete anda até Astrobaldo. Para na frente dele, de pé. Ele não consegue tirar os olhos das partes íntimas dela, ainda que encobertas pela saia.

EDJANETE

Não tenho culpa do que sente por mim. Mas se quiser ser meu amante, vai ter que gostar disso aqui!

Edjanete levanta a parte da frente da saia.

Astrobaldo fica estarrecido, faz uma careta. Entra em pânico e corre.

Sala

Astrobaldo sai do quarto desesperado, correndo muito, deixa a porta aberta.

Astrobaldo corre até a porta de saída e tenta abri-la. Está trancada. Jorge e Sei Não estão no sofá, apenas observando.

ASTROBALDO

A chave!!! cadê a chave!!!

Jorge movimenta-se levemente, apelas para tirar a chave do bolso.

Balaça na frente de Astrobaldo.

ASTROBALDO

(correndo para pegar a chave de Jorge)

Abre isso logo, vamos embora daqui!!!

Jorge evita que Astrobaldo pegue a chave.

ASTROBALDO

Me dá logo essa chave, não é brincadeira não!!!

JORGE

Que foi, cara?? Tá com medo da mulher???

ASTROBALDO

(querendo explicar a Jorge, com palavras e gestos)

Ela não é mulher!!! ela não é mulher!!!

Jorge fica rindo de Astrobaldo. Este tenta pegar a chave e não consegue.

ASTROBALDO

Vamos embora daqui!!!vamos embora daqui, por favor...

Astrobaldo começa a chorar.

JORGE

O que foi, rapaz??? ela não morde ninguém, a menos que você queira... (pausa)

ASTROBALDO

Você fala assim porque não é você...

JORGE

Que foi, velho, está decepcionado com sua amada??

ASTROBALDO

(fazendo um gesto com as mãos)

Ela tem um negócio deste tamanho...

JORGE

Não se preocupe com isso, não é essa a ferramenta que ela gosta de usar.

ASTROBALDO

Vamos embora pra casa...

JORGE

Pra que?? pra você ficar chorando o dia todo??? ahhhhh, não, meu querido, essa daí você vai ter que encarar...

Jorge se levanta. Astrobaldo tenta correr, mas Jorge é rápido e o segura. Astrobaldo tenta se livrar, em vão.

Jorge arrasta Astrobaldo para o quarto, abre a porta e joga ele lá dentro, depois tranca a fechadura por fora.

Um grito de Astrobaldo faz-se ouvir lá de dentro.

Cena 49

Aporta de entrada abre, Astrobaldo entra. Sei Não está deitado no sofá, Jorge está sentado no chão fumando cigarro de palha.

ASTROBALDO

(tranquilo)

Oi, pessoal.

SEI NÃO

(sentando-se, para dar lugar a Astrobaldo)

Chegou o namorador!

JORGE

Pois é, agora não sai mais da casa da mulher...(risos)

ASTROBALDO

(senta-se ao lado de Sei Não)

Cadê Cida???

JORGE

Acho que ela foi no banheiro.

ASTROBALDO

O dia da apresentação está chegando...

Cida chega, senta-se ao lado de Jorge. Este a abraça.

JORGE

Esquenta não cara, agente está afiado.

ASTROBALDO

É a nossa primeira apresentação, temos que garantir alguma qualidade.

JORGE

Todo mundo aqui se garante, cara.

ASTROBALDO

Vamos pelo menos passar as músicas...

SEI NÃO

A Edjanete vai ver show??

ASTROBALDO

Não, ela tem que trabalhar.

SEI NÃO

Que pena!

ASTROBALDO

Então vamos a atividade, né cambada!

Os quatro se levantam, se posicionam e começam a tocar.

Cena 50

Cida entra correndo, sorrindo, vez em quando olhando para trás. Jorge a persegue, também rindo, e consegue alcança-la. Pega no braço dela, ambos caem e rolam pelo chão.

Jorge para em cima de Cida, ambos trocam olhares.

Astrobaldo e Sei Não chegam e se jogam em cima de Jorge e Cida, fazendo "bolinho". O grupo se levanta, dá as mãos e começa a rodar em ciranda. Fazem um abraço coletivo e vomeçam a pular.

Cena 51

Os quatro estão abraçados e pulando, no meio do público. O ambiente está lotado. Uma banda toca rock pesado. Um funcionário da produção chega até Astrobaldo e cochica no ouvido. Astrobaldo reúne os outros e saem na direção do camarim.

Camarim

Astrobaldo, Jorge, Sei Não e Cida entram no camarim. Apolinário Ferreira está muito irritado.

APOLINÁRIO FERREIRA

Onde vocês estavam? A banda já está quase no final do show!! está quase na hora de vocês entrarem!!!

JORGE

Estamos aqui, e estamos prontos.

APOLINÁRIO FERREIRA

Onde estão os instrumentos???

SEI NÃO

No palco. Já deixamos lá desde cedo.

Ouve-se a banda terminar o show e fazer os agradecimentos. O locutor anuncia a Grito Distorcido.

APOLINÁRIO FERREIRA

Vamos, vamos, já é a hora de vocês entrarem!

Jorge, Astrobaldo, Cida e Sei Não entram no palco.

Palco

O público ainda está agitado. Astrobaldo está visivelmente nervoso. Cida está assustada, sem reagir, olhando todo aquele mudaréu de gente. Jorge conserva um sorriso sarcástico. Astrobaldo vai para o lado direito do palco, Jorge conduz Cida até o centro, junto ao microfone, e se posiciona do lado esquerdo. Há microfones também para Astrobaldo e Jorge. No centro, atrás de todos, está a bateria. Sei Não senta nela e estranha. Chama um dos funcionários da produção.

SEI NÃO

Cara, eu não toco nisso aqui não, velho, prefiro a minha.

Funcionário da produção

O seu pessoal não montou nada não. Vai ter que ser essa aí ou então conversa com o Apolinário.

Sei Não o ignora, levanta-se e pega o banquinho onde estava sentado, levando-o para a parte da frente, bem atrás de Cida.

Espectador (V.O.)

Ei, aquilo é uma camisa de força???

JORGE

(eloqüente, no microfone)

Aê pessoal, nós somos a banda Grito Distorcidoooo. Hoje, vocês (aponta para o público) vão ter uma experiência surreal!!!! (solta um grito, simulando um animal).

Sei Não levanta as baquetas, dá três toques ritmados e Astrobaldo finge estar tocando guitarra. Jorge finge tocar baixo, mas canta as notas com a boca. Sei Não finge tocarbateria. Cida está paralisada, com vergonha do público e sem entender nada. O público se cala por um breve momento. Astrobaldo faz coreografias, Jorge acompanha.

Montagem paralela

João Meniele procura Apolinário Ferreira, nervoso. Dá para ouvir a vozde Jorge, simulando as notas do baixo com a boca.

JOÃO MENIELE

O que é isso, Apolinário???

APOLINÁRIO FERREIRA

(Se defendendo, sem entender)

É uma das bandas que você me indicou para contratar...

JOÃO MENIELE

Indiquei o quê, Apolinário??? Você tá querendo me fuder???

APOLINÁRIO FERREIRA

Te fuder que nada, João (mostra a lista) olha aqui...

Os dois discutem acaloradamente.

PalCO

O público começa a vaiar.

Alguém no Público (v.o.)

Eu não gastei dinheiro para ver esta porcaria!!!

ALGUÉM NO PÚBLICO (V.O.)

Tão tirando onda com a cara da gente!

ALGUÉM NO PÚBLICO (V.O.)

Quebra esses filhos da puta!!!!

Uma confusão generalizada explode no salão, os seguranças não conseguem conter. Algumas pessoas sobem no palco e puxam Jorge mais Astrobaldo para baixo. Sei Não tenta correr, mas também é segurado.

Cena 52

Jorge vira a esquina, correndo, pegado no braço de Cida. Para, rapidamente olha para os lados e se dirige para a porta de uma das casas. Encosta Cida, olha-a nos olhos e beija-a na boca. Astrobaldo vira a esquina correndo e passa direto, seguido por Sei Não. Uma multidão os persegue, mas ninguém dá atenção a Jorge e Cida, que continuam se beijando. A multidão acompanha Astrobaldo e Sei Não, segurando-os pela camisa. A imagem paralisa. Ouve-se um grito de Sei Não e Astrobaldo.

FIM



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segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Cenas 41 a 47

Cena 41

CIDA está sentada em uma cadeira de balanço, se balançando. ASTROBALDO e SEI NÃO estão sentados próximos a ela, em um banco, conversando. Cida não presta atenção aos dois. JORGE CHEGA de surpresa, por trás de Sei Não e Astrobaldo, agitado. Pula o banco e se senta ao lado dos outros. Ambos tomam um susto com a chegada de Jorge.

JORGE
UUUUUUHHHHUUUUU!!!!! conseguii!!!
SEI NÃO
Que foi, Jorge, viu passarinho verde foi?
Medium CLOSE UP: Jorge
JORGE
Nós vamos tocar, cara, temos uma apresentação com cachê e tudo!!!!
ASTROBALDO
Tá viajando, Jorge??? que é que tu andou fumando???
JORGE
Ahhh, eu não disse que conseguia??? vocês estão pensando que eu sou brincadeira, é???
Cida vê Jorge e dá um sorriso inocente, mas continua se balançando. Jorge pára por um instante, olha nos olhos de Cida e continua conversando com os outros.
ASTROBALDO
E quem foi o louco que nos contratou???
JORGE
Advinha...
SEI NÃO
Desembucha logo, porra!
JORGE
Ninguém menos que o João Meniele!
ASTROBALDO
Quem??? João Meniele??? Nunca na sua vida!!!! aquele ali só contrata banda de nome, nunca ia contratar gente como nós, por melhor que fosse nosso som!
JORGE
Ah, mas vocês não têm as manhas...
SEI NÃO
Tu tá pensando que agente é besta?? eu sou quem não vou engolir suas cordas.
JORGE
Pois então espere. Amanhã este celular aqui...
Jorge retira o telefone celular do bolso e mostra aos dois.
JORGE
...vai tocar e vocês vão ver quem está viajando!!!
Jorge coloca o telefone no banco da praça, entre Astrobaldo e Sei Não.
Cena 42
O telefone celular TOCA. ASTROBALDO atende o telefone.
SECRETÁRIA DE APOLINÁRIO (V.O.)
Alô, aqui é da Ferreira Meniele Produções. O senhor é da banda Grito Distorcido??
ASTROBALDO
(exita antes de falar)
Sim... sou sim.
SECRETÁRIA DE APOLINÁRIO (V.O.)
Com quem eu estou falando??
ASTROBALDO
Astrobaldo, guitarrista da banda.
SECRETÁRIA DE APOLINÁRIO (V.O.)
Pois bem seu Astrobaldo, queremos contratar um show de vocês. Tem como mandar alguém aqui no escritório para conversar conosco??
ASTROBALDO
S..sim, claro!
SECRETÁRIA DE APOLINÁRIO (V.O.)
Podemos agendar para hoje às três horas?
ASTROBALDO
S...sim, claro... estaremos aí.
SECRETÁRIA DE APOLINÁRIO (V.O.)
Obrigada, senhor. Estaremos esperando.
O telefone é desligado. Astrobaldo fica eufórico, gritando e pulando muito.
ASTROBALDO
UUUUU, conseguimos!!! conseguimos!!!!
Mexe com Cida, na intenção de acorda-la. Ela acorda, não entende nada e continua deitada, apenas observando. Astrobaldo vai para a sala.
SALA
Astrobaldo ENTRA pulando e gritando.
ASTROBALDO
Conseguimos! conseguimos!
SEI NÃO
(acorda assustado)
Que foi, cara!!! tá ficando maluco, é???
Jorge acorda também. Levanta-se e senta, prestando atenção em Astrobaldo.
ASTROBALDO
O pessoal da Ferreira Meniele Produções acabou de ligar!!! vamos tocar, cara, vamos tocar!!!
SEI NÃO
(histérico, levanta-se e vai pular junto com Astrobaldo)
UUUUUUUU, AHHHHHHH, AHHHHHHH!!!!!!
JORGE
(levanta-se para comemorar com os outros)
Não falei! não falei!!! vocês pensaram que era brincadeira??? E agora??? num falei???
Os três formam uma roda, comemorando. Cida chega de mansinho e fica apenas observando. Jorge deixa o grupo e vai até ela, pega pelo braço e puxa para junto dos outros. Os quatro pulam abraçados.
Cena 43

JORGE, SEI NÃO, ASTROBALDO E CIDA pulam animados. Param de pular e sentam-se em uma mesa. Há uma garrafa de cerveja aberta e quatro copos. Sei Não levanta o copo propondo um brinde, todos levantam tabém o tocam os copos uns nos outros, depois na garrafa. O grupo bebe e conversa bastante.
Cena 44
O grupo retorna. Jorge, Astrobaldo e Sei Não estão abraçados, cantarolando uma música desafinadamente, visivelmente bêbados, Cida vem mais adiante aparentando estarmais sóbria. Passam em frente a uma casa onde está sendo realizada uma festa infantil. Astrobaldo olha para a festa e se assusta.
ASTROBALDO
Uai, o Alemão!!!!!
Astrobaldo se desprende de Jorge e Sei Não e sai correndo em sentido contrário ao que iam, dobrando na primeira esquina.

Cena 45
Jorge e Sei Não viram a esquina correndo. Astrobaldo está batendo em uma casa de portão grande, desesperadamente.
ASTROBALDO
Socorro, querem me matar!!! alguém me ajude!!!

Sei Não e Jorge tentam acalma-lo e afasta-lo do portão.

SEI NÃO
Calma! calma! estamos com você, calma!
ASTROBALDO
Ele vai me matar!!!
JORGE
Cara, por mais alma ceboza que ele seja, não vai querer te matar na frente de um montão de crianças....
ASTROBALDO
Ele é louco! vocês não o conhecem, ele é insensível, é capaz de faer qalquer coisa!!! ahhhhhh, eu não quero morrer!!!!
SEI NÃO
Tá bom, então vamos por outro caminho.
ASTROBALDO
Ele me viu!!! ele me viu, e vai querer me seguir pelo outor caminho também!!! eu não quero morrer!!!!
JORGE
Astro, agente tem que ir embora, se ficar aqui é pior, porque ele pode vir te buscar...
ASTROBALDO
(correndo na direção do portão)
Eu não quero morreeeerrrr!!! socorro, me ajudem!!! abram aqui!!!

Jorge e Sei Não correm para acalma-lo e afasta-lo de novo. Jorge tira o telefone celular do bolso.

JORGE
Quer saber, minha paciência está curta hoje. A polícia é quem vai se virar com esse cara.

Jorge disca para 190. Astrobaldo toma o celular e desliga.

ASTROBALDO
Nãaaao!!! eles são todos amigos do Alemão, tudo máfia. Eles podem me levar pra umas quebradas, podem querer me bater, me expor ao ridículo... Ahhh, eu não quero morreeeeerrrr!!!

Jorge perde a paciência e avança em Astrobaldo, segurando-o pela camisa.

JORGE
Olha, eu já tô de saco cheio desse Alemão, e seja lá quem for esse filho da puta agente vai enfrentar ele agora!!!

Jorge arrasta Astrobaldo, que tenta resistir e correr mas não consegue. Sei Não está confuso, tenta pesuadir Jorge a deixar Astrobaldo mas não tenta impedi-lo.

SEI NÃO
Calma Jorge, deixa ele!!!
ASTROBALDO
Me larga, me larga!!!por favor!!! eu não quero morreeeerrr!!!
JORGE
Ahhhhh, ou você vira homem hoje, ou então quem te mata sou eu!
Cena 46
Jorge entra arrastando Astrobaldo, Sei Não vem logo atrás e Cida fica do lado de fora, observando tudo. Astrobaldo está desesperado, esperneando e tentando fugir. Jorge o segura firmemente.

JORGE
Quem éo Alemão aqui???

O desespero de Astrobaldo aumenta. Aparece o Alemão, um garoto louro de cerca de oito anos, com uma "lingua de trapo" na boca. Sopra a língua de trapo duas vezes.

ALEMÃO
(com geito de "macho")
Eu sou o Alemão!
ASTROBALDO
Não me mate!!! não me mate!!!

Astrobaldo está no extremo do desespero. Jorge e Sei Não ficam paralisados, decepcionados. Jorge solta Astrobaldo no chão, de uma só vez. Astrobaldo se agarra nas pernas de Jorge.

ASTROBALDO
Por favor, não deixem que ele me mate!!! eu não quero morrer!!!!
Jorge está se recompondo, buscando uma reação.
JORGE
Cara... você precisa de uma namorada!
Cena 47
CIDA está deitada no sofá, dormindo. JORGE E SEI NÃO estão sentados no chão, encostados no sofá. Jorge está fumando um cigarro comum. Ouve-se os gritos escandalosos de Astrobaldo chorando no quarto.

JORGE
Agora ele vai passar a noite toda chorando!!!
SEI NÃO
O que será que o Alemão fez com ele???
JORGE
Não faço a mínima questão de saber.
SEI NÃO
E nós, o que vamos fazer????
JORGE
(se levantando)
Acho que sei do que ele está precisando...

Jorge se dirige até a porta.

SEI NÃO
Onde você vai?
JORGE
Vou ver se acho um atídoto para este chorão.

Jorge SAI e fecha a porta.
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Cenas 32 a 40

Cena 32

O grupo está comendo sanduíches, Cida está afastada, entretida com os objetos da cozinha.

SEI NÃO
A Cida cozinha bem, né...
JORGE
E canta também, né, diz aí!!!
ASTROBALDO
É... até que eu gostei.
SEI NÃO
Eu só acho ela meio caladinha...
ASTROBALDO
Pois é... Se eu não tivesse visto ela cantar diria que é surda-muda...
JORGE
(cortando a fala de Astrobaldo)
Sim... mas mudando de assunto... O qu vocês acham de arrumar uma apresentação para a banda?
SEI NÃO
Acho que agente deveria ensaiar um pouco mais.
JORGE
Que é isso! agente já tá entrosado, dá pra fazer um show e tanto...
ASTROBALDO
É, mas tem que ter um material pra apresentar ao produtor, quem vai nos contratar sem conhecer nosso trabalho???
JORGE
(dá um sorriso malicioso)
Isso você deixa comigo.
Cena 33
JORGE caminha procurando pessoas, encontra-se com amigos e para para conversar. Visita lojas, conversa com flanelinhas e camelôs.

Cena 34
JORGE está sentado num banco da rua. NILDO vem passando, para para comprimentar Jorge e ambos conversam. SAEM juntos.
Cena 35
JORGE está sentado com NILDO em uma mesa. Tem duas garrafas de cerveja vazias e uma pela metade. Cada qual tem um copo com a bebida.

JORGE
Pois é, Nildo, você tem queme quebrar esse galho!
NILDO
E você acha mesmo que consegue convencer o cara? nestas condições??
JORGE
Deixa que eu me viro, Nildo. Você tem que me arrumar a roupa e o celular, se não ele sequer vai olhar na minha cara.
NILDO
A roupa e o celular não vão fazer ele olhar para você, ele nem te conhece! Outra coisa, você tem certeza que a lista vai estar lá?? e se não tiver nada?
JORGE
Conversei com uns amigos. Quem contrata é o Apolinário Ferreira, mas quem indica é o João Meniele. Não tem erro, ele sempre fica lá no bar, tomando seu wiskizinho, esperando o Apolinário passar para pegar a lista.
NILDO
Cara, isso pode dar confusão. Já pensou se ele perceber?
JORGE
Perceber como? o cara odeia computador, a lista sempre vai manuscrita e você sabe que eu manjo destas coisas. Se você fizer como eu falei ele só vai saber o que está acontecendo na hora do show.
NILDO
Sei não, Jorge. As roupas e o celular eu arrumo, mas o resto do seu plano eu não posso garantir.
JORGE
Quebra esse galho, pô. Eu só posso contar com você!
Cena 36
NILDO está sentado em uma das mesas, num local visível próximo a entrada do estabelecimento. Na mesa está uma cerveja aberta, e um copo de cerveja, vodka e cachaça, mais um prato de tira gostos e rodelas de limão. Nildo está sóbrio mas tenta parecer que está embriagado. Bebe apenas do copo de cerveja, os demais estão cheios.
Cena 37
JORGE está escondido, em um local próximo ao bar onde está Nildo. Estábem vestido, roupa social. De onde está, pode visualizar o movimento sem ser visto. Espera, e não consegue disfarçar seu nervosismo. Ele fuma cigarros comuns.
Cena 38
JOÃO MENIELE CHEGA, tendo em mãos apenas uma agenda. Ele está bem vestido, roupas de boa qualidade e acessórios caros. Senta-se em uma das mesas sozinho. A agenda é colocada na mesa. A agenda é de couro, com muitos papéis dentro e uma caneta.

João Meniele chama um garçom. NILDO ao fundo o observa. O GARÇOM chega, João Meniele pede uma bebida, o garçom SAI. Nildo pegao telefone e faz uma chamada.
Cena 39
O celular de JORGE TOCA. Jorge atende.
NILDO (V.O.)
O homem chegou.
JORGE
Ok, estou indo.
Jorge desliga o celular e SAI.
Cena 40
JORGE se aproxima do bar, faz que procura uma mesa e segue na direção de JOÂO MENIELE, sem nunca olhar para NILDO.
Jorge vai passando por João Meniele, faz que o reconhece. Coloca uma das mãos no ombro de João Meniele e extende a outra.
JORGE
João Meniele!?? João Meniele, é você mesmo, rapaz!!! que satisfação em reve-lo!!!!!
João Meniele ignora a mão estendida de Jorge.
João Meniele
Não me lembro de já ter visto o senhor...
JORGE
Que é isso, João! Agente se conhece desde moleque, rapaz, lembra não??? lá na quarta série, os caras querendo bater na gente, agente dava cada carreira, lembra não???
JOÃO MENIELE
(tentando não dar muita atenção a Jorge)
Acho que o senhor está me confundindo com outra pessoa.

Nildo se levanta, toma o copo de cachaça de uma vez, pega o copo de vodka e vem andando a passos trôpegos na direção de João Meniele e Jorge.
JORGE
Não, eu tenho certeza que é você. Você é quem não está se lembrando (jorge puxa uma cadeira para sentar).
JOÃO MENIELE
Olha, eu sinto muito, mas estou esperando uma pessoa, e já vi que esta conversa não vai dar em nada.
Nildo passa por trás de João Meniele, finge tropeçar e derrama o copo de vodka nele. Jorge finge tomar um susto. João Meniele se levanta irritado, Jorge finge estar aborrecido.
JOÃO MENIELE
Mas o que é isso!!??? o senhor está cego???
NILDO
Pô cara, foi mal... desculpe.
JORGE
(pega guardanapos e tenta socorrer João Meniele)
Puxa vida, que desastre, deixa eu ajudar o senhor...
JOÃO MENIELE
(ignorante)
Deixa que eu sei me limpar sozinho! E você, saia daqui antes que eu te meta um processo!
Nildo se afasta, na direção de um carrinho de churrasco. Jorge tenta ajudar João Meniele.
JOÃO MENIELE
Saia você da minha frente também, que eu já estou cheio de atender puxa-sacos!!!!!
João Meniele SAI em direção ao banheiro. Jorge espera ele se distanciar, quando está fora do alcance da visão senta-se na cadeira e pega a agenda.
Jorge folheia os papéis que estão na agenda até que encontra uma lista manuscrita intitulada "Paulo Afonso Rock festival", contendo nomes de bandas, cachê e telefone de contato.
Jorge pega a lista e a caneta, depois imita a letra de João Meniele e escreve o nome de sua banda, um cachê de R$3000,00 e seu telefone.
Jorge coloca os papéis e a caneta no lugar e se retira. JOÃO MENIELE está SAINDO do banheiro. Jorge SAI.
João Meniele senta-se na mesa. Nildo chama o garçom e pede a conta. O garçom traz a bebida de João Meniele. O garçom traz a conta de Nildo, ele entrega o dinheiro e SAI. APOLINÁRIO FERREIRA CHEGA e se aproxima de João Meniele.
APOLINÁRIO FERREIRA
Desculpe o atraso, tive um imprevisto. O que aconteceu com a sua camisa?
JOÃO MENIELE
Um bêbado abestalhado derramou um copo de bebida em mim. E ainda teve um xarope aqui querendo me engabelar!
APOLINÁRIO FERREIRA
A lista está pronta?
JOÃO MENIELE
Sim, (pega a lista e entrega a Apolinário) aqui está.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Cenas 30 e 31

Cena 30

WIDE: Fast motion, cama de Astrobaldo

Astrobaldo está deitado na cama. O tempo passa, anoitece e ele continua lá, vez ou outra se mexendo. Sei Não aparece de vez em quando, tenta fazer ele comer o jantar, mas Astrobaldo se recusa a cooperar. No meio da madrugada Jorge entra e dá uma olhada em Astrobaldo, depois forra o chão e sai.

Cena 31

Astrobaldo acorda, não está mais chorando. Olha para o local onde Jorge costuma dormir e vê alguém deitado, totalmente enrolado no lençol de forma que não dá para ver nenhuma parte do corpo. Vai para o banheiro. Para em frente ao armário, olha-se no espelho, depois abre a portinha, pega uma escova de dentes e fecha.

Astrobaldo escova os dentes e lava a boca. Vira-se e sai do banheiro.

Astrobaldo olha para a pessoa deitada no chão. É uma mulher, agora com a cabeça descoberta. Astrobaldo se assusta.

ASTROBALDO

(gritando e gesticulando)

Mas o que é isso!? Tão pensando que aqui é casa da Mãe Joana?

A mulher não reage aos gritos de Astrobaldo, continua dormindo.

ASTROBALDO

(grita e gesticula mas nunca toca na mulher)

Ei, você, acorde! vamos, anda logo, vamos, arrume outro lugar pra ficar porque aqui não é hotel não!

A mulher se vira, continua dormindo. Astrobaldo está impaciente, continua falando de longe e gesticulando, mas sem nunca toca-la.

ASTROBALDO

Ei,acorda, acorda, vamos, vamos...

A mulher continua sem reagir. Astrobaldo se retira, indignado.

SALA

Astrobaldo entra na sala. Sei Não está dormindo no sofá, jorge está encostado na parede com uma panela nas mãos, o conteúdo em chamas e ele cheirando a fumaça, comportamento claramente alterado, em estado de "lombra". Astrobaldo se aproxima de Jorge.

ASTROBALDO

(Mãos na cintura, tom moralista)

Mas o que é isso, Jorge!?

JORGE

(cheirando o vapor e com geito de maluco)

Meu irmão, eu já tô muito doido...

ASTROBALDO

(toma a panela das mãos de jorge)

Me dá isso aqui! Mas que diabos é isso????

JORGE

Pô, velho, se quer cheirar faça o seu.

ASTROBALDO

E eu lá tenho cara de usuário de drogas?

JORGE

Qualé mano, isso é pó de café com sabão, misturado com alcool para incendiar. Você cheira a fumaça e dá a maior viagem...

Astrobaldo abafa a panela e apaga o fogo.

ASTROBALDO

Já basta eu ter que agüentar vocês sóbrios. Quem é aquela mulher lá em cima?

JORGE

É a Cida, uma amiga que conheci esta semana.

ASTROBALDO

(visivelmente irritado)

E é assim, é!?? você conhece a mulher do nada e já chama pra morar na minha casa?

JORGE

Calma, Astro. ela é fundamental pra nossa banda.

ASTROBALDO

E quem disse que a banda precisa de uma mulher?

JORGE

É a nossa vocalista, pô.

ASTROBALDO

O que??? você tá ficando doido?

JORGE

Vai montar uma banda só de instrumental, Astro? Cola não, velho, o público gosta mesmo é de ouvir a voz de um cantor... e ter mulher no vocal tá na moda.

ASTROBALDO

Que vocal o quê, rapaz, deixa de conversa furada!

JORGE

Conversa o quê, Astro? O vocal é quem dá aquele clima, entendeu? Como se o som conversasse com o público através da poesia. A galera quer dialogar com a música, irmão, vai por mim. Tem que ter um vocal sim, se não agente não vai sair nunca do anonimato, veja bem o que eu tô te dizendo.

ASTROBALDO

O Lord da guitarra não tem vocalista e faz o maior sucesso! Vai la ver o show dele e pergunta se alguém sente falta de um vocal.

JORGE

E você quer se comparar com o cara é? agente tá só começando, ele já tem muitos anos de estrada.

Sei Não acorda, ainda preguiçoso e mole.

SEI NÃO

(ainda se espreguiçando)

Que é que tá pegando??

ASTROBALDO

Jorge arranjou uma mulher pra cantar na banda.

SEI NÃO

Maaaaassaaaaa!!!!

ASTROBALDO

Massa nada! agente não precisa de uma cantora.

SEI NÃO

Deixa pra ver, ué. Se não ficar legal depois agente dispensa.

ASTROBALDO

E ele ainda por cima trouxe a sujeita pra morar na minha casa!

SEI NÃO

Tem espaço. Agente arruma um lugarzinho pra ela aí e ela dorme.

ASTROBALDO

Mas só me faltava essa... Quando a Edjanete souber disso, vai querer me matar!

SEI NÃO

Ué, e você tem namorada? nunca falou dela pra gente...

ASTROBALDO

(constrangido)

Namorada não... é um... é um... um esquema.

SEI NÃO

Vocês estão ficando, então.

ASTROBALDO

Não é bem isso... agente... agente está se... entendendo.

SEI NÃO

Será que agente conhece a figura?

ASTROBALDO

O nome dela é Edjanete. Trabalha naquela loja de sapatos perto da feira.

JORGE

(dando gargalhada)

Cara, você está comendo a Edjanete???

ASTROBALDO

Tá com ciúme, é?

JORGE

(enfático e rindo)

Eu mesmo não!

ASTROBALDO

Ainda não tá rolando nada, mas agente está avançando. logo, logo agente vai se entender.

JORGE

Meu irmão, tu ainda está queixando ela, é??? Fala sério!!!!

Cida entrando, bocejando e se espreguiçando. Ela tem um geito tímido, olhar sempre disperso, usa uma saia colorida, com uma camisa simples. Jorge, Astrobaldo e Sei Não olham pra ela.

ASTROBALDO

Finalmente a bonitinha acordou...

SEI NÃO

Essa aí é a mulher??

Jorge se levanta, animado. Cida observa tudo, quieta.

JORGE

(Em tom formal, abre os braços e extende a mão para Cida)

Isso mesmo, meus amigos, eu vos apresento a nossa nova vocalista, Cidaaaaaaaa.

Cida vê o gesto de Jorge e retribui segurando a saia com as mãos (uma de cada lado), flexionando ligeiramente as pernas e inclinando um pouco o corpo para frente. Permanece onde está, observando todos.

ASTROBALDO

Muito bem, Cida. Então você é quem vai ser a vocalista da nossa banda, né...

JORGE

(interrompendo Astrobaldo)

Ei, agente nem deu um nome pra banda!

SEI NÃO

É mesmo, tem que ter um.

ASTROBALDO

E aí, vocês têm alguma idéia??

JORGE

Não me veio nada ainda...

SEI NÃO

Já sei! vamos chamar "BUUUU".

JORGE

Oooxee, que idéia é essa Sei Não? mas que nome doido...

SEI NÃO

Doido porque? é um nome totalmente Rock n' Roll, cara, simples, direto, sombrio...

JORGE

Nada a ver, nada a ver. Tem que ser algo mais racional, sei lá... Tem alguma idéia Astro???

ASTROBALDO

Eu mesmo não. Não sei, talvez alguma coisa tipo... A... Astro... Astro... sei lá...

JORGE

Ah, já sei! Que tal chamar "Grito Distorcido"???

SEI NÃO

É, acho que podia ser.

ASTROBALDO

Por mim tudo bem.

JORGE

Então pronto. Agora somos o Grito Distorcido, de Paulo Afonso para o mundoooooo.

ASTROBALDO

Sim, e a Cida? (fala para a cida) Jorge disse que você é cantora. Você sabe mesmo cantar?

JORGE

Ela canta tão bem quanto você toca guitarra!

SEI NÃO

Vamos deixar de conversa furada. Que tal se agente tirasse um som e ela nos mostrasse o que consegue fazer??

Jorge vai até Cida, estende a mão e ela retribui extendendo a dela. Jorge beija a mão de Cida e a conduz até o centro da sala. No caminho ela passa por Sei Não, estranha a camisa de força e para observando.

SEI NÃO

Comprei em Washington, dizem que todo mundo lá tá usando...

Jorge puxa Cida para afasta-la de Sei Não. Sei Não leva um banco para próximo da parede, mais ou menos centralizado com o vão da sala. O grupo forma uma roda: Sei Não, Jorge, Cida e Astrobaldo, dispostos em sentido horário.

Jorge está com as mãos vazias. Faz de conta que tem um baixo e começa a tocar e cantarolar uma passagem com a boca, como se fosse o som do instrumento.

O grupo todo começa a tocar, mas ninguém tem instrumento. Cida observa Jorge e os outros, depois começa dançar por imitação, compassada e levemente, mas fora do ritmo.

câmera em Jorge

Jorge está simulando tocar baixo, mas não tem instrumento nenhum nas mãos.

câmera gira até Cida

FX: música cantarolada por Jorge

Cida está próxima a um pedestal com microfone, mas não dá atenção ao objeto, é como se ele não existisse. Permanece dançando o tempo todo, sem se preocupar com o ritmo da música.

Câmera gira até Astrobaldo

FX: Música com evidência de guitarra, Crescendo (fade in) na medida em que a câmera sai de Cida para Astrobaldo.

Astrobaldo está segurando uma guitarra e dançando.

Câmera gira até Sei Não

FX: Transição (sincronizada com a câmera) para uma música com predominância de bateria, diferente da anterior.

Sei Não está sentado em uma bateria, tocando.

Câmera gira até Jorge

FX: Transição (sincronizada com a câmera) para uma música com predominância de baixo, diferente da anterior.

Jorge está dançando com um baixo na mão, mas faz apenas coreografias, sem tentar tocar o instrumento.

FX: Mistura de todas as músicas anteriores

A banda está com os intrumentos. Astrobaldo e Sei Não tentam tocar. Cida dança despreocupada, virada para a banda e de costas para o microfone. Jorge faz coreografias malucas com o baixo na mão, mas não tenta toca-lo. Jorge para de dançar repentinamente.

Jorge está com as mãos levantadas, sem nenhum instrumento.

JORGE

Para! Para todo mundo!

FX: pára a música, som ambiente

A banda para de tocar, ninguém tem instrumento algum nas mãos e o pedestal com o microfone também não está lá. Cida para de dançar e fica olhando para Jorge, sem saber o que está acontecendo. Enquanto os rapazes discutem ela se afasta e começa a se entreter com os objetos da sala.

JORGE

Que tal se agente tentasse tocar a mesma música?

SEI NÃO

E que música você quer tocar?

JORGE

Eu sei lá, qualquer uma.

ASTROBALDO

Tem que ver quais músicas a Cida sabe cantar, né.(para Cida) Diz aí, Cida, você tem alguma sugestão?

Cida não presta atenção em Astrobaldo, nem faz questão de participar da conversa.

JORGE

(Interrompendo, para trazer a atenção do grupo para si)

Acho que podia ser aquela música...

SEI NÃO

Qual? aquela?

JORGE

Sim, aquela mesmo.

ASTROBALDO

De que música vocês estão falando?

SEI NÃO

Oxe, aquela, rapaz, você não se lembra?

ASTROBALDO

(Pensativo)

Aquela?? ahhh, aquela, lembrei! Ô Cida, você sabe cantar aquela música?

JORGE

(interrompendo)

Mas é claro que ela sabe! Vamos logo que o tempo está passando.

Jorge se aproxima de Cida e a pega carinhosamente pelo braço.

Jorge conduz Cida até o seu lugar na roda.

Jorge se prepara para tocar, e começa.

O grupo está agora com os instrumentos. Começam a tocar, da mesma forma que da vez anterior.

FX: Trilha sonora da banda

Clique aqui e veja os detalhes do roteiro

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Cenas 26 a 29

Cena 26

Master: câmera na calçada oposta ao restaurante. Astrobaldo Sei Não e Jorge atravessam a rua, entram no estabelecimento e se sentam em uma das mesas.

Cena 27

Astrobaldo, Sei Não e Jorge estão sentados na mesa, esperando servir o almoço. O restaurante tem mais de uma porta de acesso. Astrobaldo está de frente para a câmera e para uma das entradas do estabelecimento. Há uma outra porta ao lado ou atrás de Astrobaldo, em posição visível para a câmera. Sei Não está sentado à direita do vídeo, de frente com jorge que está do lado esquerdo. A mesa ao lado da mesa em que estão sentados, do lado onde Jorge está sentado, está vazia e desarrumada, com uma ou mais cadeiras recuada. Jorge está confuso e inquieto. Um dos funcionários do restaurante se aproxima.

Funcionário do restaurante

O que vocês vão comer?

SEI NÃO

Traz três PF e uma garrafa com água.

FUNCIONÁRIO DO RESTAURANTE

(sem geito de perguntar)

he...humm...Isso aí é uma camisa de força?

SEI NÃO

(enfático, certo do que está falando)

Roupa social, última moda em Paris!

O funcionário se retira, muito desconfiado.

JORGE

Vocês querem mesmo montar esta banda?

SEI NÃO

O que foi, Jorge? vai começar de novo?

ASTROBALDO

Cara, nós temos talento! talento não é pra ficar guardado não, velho, temos que mostrar para o máximo de pessoas possível.

JORGE

Mas vocês simplesmente não são uma banda!

ASTROBALDO

Pronto! lá vem ele de novo com aquela história dos instrumentos que não existem...

JORGE

Qualé, vai me dizer que você tem uma guitarra?

ASTROBALDO

E aquilo ali é o que?

Astrobaldo aponta para uma mesa que está ao lado de Jorge, recuada.

A câmera gira para enquadrar jorge e a outra mesa.

Há uma guitarra encostada na cadeira. Jorge olha para a cadeira.

CLOSE UP: Jorge, de frente

Jorge começa a rir, compulsivamente.

JORGE

Mas a cadeira está vazia!

CLOSE UP: Cadeira

A cadeira não tem nada, está vazia.

Enquadra os três personagens, astrobaldo de frente para a câmera.

Jorge ri euforicamente, Sei Não e Astrobaldo não conseguem entender. Sei Não olha para Astrobaldo fazendo sinal com o indicador girando ao redor do ouvido.

JORGE

(nunca para de rir)

Meu irmão... velho,vocês são pirados!

SEI NÃO

Oxe, pirados porque, Jorge?

JORGE

Vocês não estão entendendo?

ASTROBALDO

Eu mesmo, não.

SEI NÃO

E nem eu, explica aí.

JORGE

vocês estão subvertendo toda a noção estética da arte. Isso é do caralho!

SEI NÃO

Pronto, se prepare que baixou o filósofo nele. Vai viajar na maionese pelo resto do dia agora.

JORGE

Cara, pensa comigo: a música é formada de quê?

SEI NÃO

Você quer tirar uma onde com gente, né.

JORGE

Onde o que, Sei Não, me responde.

SEI NÃO

Você andou cheirando Rexona?

JORGE

Tô sem brincadeira, vai fala logo!

ASTROBALDO

Êêê, agora pronto. A música é formada de sona, né sabichão.

JORGE

Som e mais o que?

SEI NÃO

Fala logo sabichudo, ninguém aqui está entendendo onde você quer chegar.

JORGE

(ar de professor tentando ser o máximo didático possível)

Música é formada por sons e silêncios, entenderam? não é apenas sons, também tem os silêncios, as pausas...

ASTROBALDO

Sim mas... e daí?

SEI NÃO

É, onde você quer chegar com tudo isso?

Astrobaldo muda a feição de repente e começa a ficar gradualmente nervoso e agitado enquanto a conversa prossegue.

JORGE

(empolgado)

Já vi música sem pausas, que tem apenas ossons, mas nunca vi... (perde empolgação e percebe o desconforto de Astrobaldo. fala com ele)... você está bem?

ASTROBALDO

(visivelmente nervoso)

Nada não...

SEI NÃO

Sim, continue.

JORGE

Você já viu alguma música que tenha somente pausas?

SEI NÃO

Mas como seria uma música sem som?

Astrobaldo está extremamente nervoso, muito inquieto, devagar vai afastando a cadeira e tentando se levantar.

JORGE

Pode ser qualquer som, qualquer coisa que sua imaginação quiser criar. É o vazio, cara! Na nossa cabeça a ausência de informação é a presença de todas as formas, a matéria prima de tudo. Não existe mais aquele condicionamento sonoro que...

Astrobaldo foge repentinamente, sai correndo, derrubando cadeiras e atropelando pessoas. Jorge e Sei Não ficam assustados mas permanecem no mesmo lugar, apenas observando a fuga com os olhos. Um olha para o outro, sem saber o que falar.

Cena 28

Astrobaldo está deitado na cama, de bruços, com o travesseiro sobre a nuca, chorando copiosamente. Jorge e Sei Não chegam e sentam na beirada da cama. Jorge está mais próximo da cabeceira.

JORGE

Que foi cara, você fugiu tão de repente...

Astrobaldo não responde nem pára de chorar.

SEI NÃO

Pode se abrir, agente está aqui pra ajudar.

Astrobaldo continua chorando. Jorge fica inquieto, começa a perder a paciência. Levanta-se e anda de um lado para o outro do quarto. Sei Não se aproxima da cabeceira e tenta consolar Astrobaldo.

JORGE

Essa agora...

SEI NÃO

O que aconteceu, cara, confie na gente.

Astrobaldo continua chorando. Jorge perde o que sobrou da paciência.

JORGE

(explosivo)

Seja homem, porra! pare de chorar e desembuche logo!

SEI NÃO

Pera aê Jorge, não tá vendo que o cara está detonado? se não ajuda tente não piorar.

Astrobaldo se vira.

ASTROBALDO

(Enquanto conversa vai se levantando até ficar sentado)

Ele diz isso porque não está correndo risco de vida!

Sei Não e Jorge ficam surpresos com a revelação.

SEI NÃO

(voz de surpresa e dúvida)

E quem quer te matar, cara?

ASTROBALDO

O Alemão, o Alemão estava lá. Ele não gosta de mim, jurou que um dia iria me esmagar como quem mata barata.

JORGE

E porque você não foi na Polícia?

ASTROBALDO

Acha que não tentei? Eles são todos assim ó (esfrega os dedos indicadores das duas mãos), tudo máfia. O Alemão é de menor, ninguém pode prender. Quando contei minha história eles riram de mim, o delegado mandou eu me foder e teve um soldado que queria me bater. Nunca me senti tão exposto ao ridículo! Como você acha que eu vou confiar na justiça?

JORGE

Ahhh, você tem que dar um geito nesse cara. Conheço um brother que pode arranjar umas paradas...

SEI NÃO

Já vem você querendo mais violência, né Jorge. Vamos pensar numa solução pacifista, pô.

JORGE

(debochando de Sei Não)

Agora fudeu! Porque você não vai lá conversar com o cara? chega lá e diz (simulando uma voz feminina): meu querido amigo Astrobaldo disse pra você não matar ele...

SEI NÃO

Sai daqui, vai. Se não quer ajudar então tmbém não atrapalha.

Jorge sai do quarto, inconformado. Astrobaldo deita o rosto no ombro de Sei Não e volta a chorar. Sei Não consola ele.

SEI NÃO

Calma amigo, agente vai achar uma saída.

FX: Aparelho de som tocando em alto volume.

SEI NÃO

(irritado, gritando imperativo)

Porra Jorge, desliga esse som!

Cena 29

FX: Continua o som em alto volume

Jorge está dançando uma música em alto volume. Sei Não entra e simplesmente desliga o aparelho.

SEI NÃO

Qualé, Jorge. O cara lá em cima na maior deprê e você nem tem consideração.

JORGE

E você quer que eu faça o que? que fique aqui sem fazer nada?

SEI NÃO

Ah, sei lá, vai dar uma volta.

Jorge sai, inconformado. Sei Não volta para o quarto.

Clique aqui e veja os detalhes do roteiro

Como foi filmada a primeira cena

Diário de produção: Gravações da primeira cena


Por Samuel Hermínio

Planejamento da cena

Gravar cenas de um filme é um processo trabalhoso, mas não necessariamente caro. O ponto de partida é sempre o roteiro, um registro escrito do que será filmado. Sabendo o que queremos ver na tela pensamos então nos detalhes, em tudo o que deverá estar presente ou ausente das imagens e como estas serão capturadas.

Para o espectador a realidade está resumida naquilo que aparece no vídeo, os elementos gravados pela câmera e posteriormente modificados em um processo de edição. Nada do que está ao redor interessa, desde que se tome o cuidado de montar uma seqüência lógica de imagens que seja coerente com a experiência do espectador.

O roteiro de Sonoro Silêncio foi montado em um processo de debate e reflexão, onde cada cena foi pensada dentro dos limites técnicos e financeiros da equipe. Nossa proposta sempre foi a de usar o mínimo possível de dinheiro, porque esse é o item mais difícil de conseguir. Nossa estratégia é a de trabalhar com a colaboração mútua entre pessoas que participam do projeto ou que se identificam com ele.

Enquanto debatíamos a primeira cena fomos percebendo que ela deveria ser filmada no palco do Paulo Afonso Folia, porque não existe outro evento com a mesma estrutura e estimativa de público. A idéia era aproveitar o show de uma das bandas principais do evento para filmar o público agitando, e depois, com as cortinas fechadas, filmar nossos atores encenando a apresentação. Um jogo de imagens misturando as cenas dos atores e do público daria a impressão de que a platéia estava agitando para nosso personagem.

Para trabalhar sem dinheiro e sustentado apenas na colaboração de pessoas você tem de ser muito flexível, bem relacionado, desenrolado e ter boa capacidade de improvisação. Havíamos conversado com o pessoal da prefeitura na semana anterior ao evento, e não houve resistência em conseguir autorização para fazer as imagens. Eu já sabia que não poderíamos mexer muito no palco, mas não era necessário, porque tudo o que precisávamos era de um visual que deixasse claro para o espectador que o personagem estava em um evento de grande porte. A única coisa que precisaria estar funcionando era a iluminação.

Do nosso lado, todos já havíamos tido alguma experiência com palco pequeno, mas ninguém sabia de verdade como funcionavam os bastidores de um show de grande porte. Essa informação não apareceria no filme, mas influenciava todo o trabalho de obtenção das imagens e portanto era crucial.

O show de uma banda renomada geralmente ultrapassa o valor de dois carros populares 0 Km, nada pode dar errado. Uma parte dos equipamentos e apetrechos do palco são responsabilidade da organização do evento e a outra é colocada pela banda, mas via de regra a banda determina tudo o que vai acontecer durante o show, desde disposição dos elementos até a configuração do som e iluminação. Nada acontece no palco sem que eles dêem autorização. Ter o direito de chegar no local era apenas a primeira parte, teríamos também que convencer a produção da banda a nos permitir trabalhar.

As gravações não teriam quase nada de especial, seriam em sua maior parte a dublagem de um playback. Na semana do evento conversei com Chuck e decidimos colocar uma banda inteira encenando, para criar um clima de maior realismo. Escolhemos a banda Age of Fear para trilha sonora porque tinha músicas com solos de guitarra muito virtuosos, evidenciando a habilidade do guitarrista. Eu fiz uma edição de áudio utilizando duas músicas, onde retirei o vocal e deixei apenas a passagem dos solos. Convidamos Saulo Henrique (ex Menntes Diver-Genntes) para dublar o baixo, Deiveson Feitosa (chuveiro Elétrico) para dublar a guitarra base e Maizena (Chuveiro Elétrico) para assumir a bateria.

No texto original, o personagem tocava no show e depois se jogava para a platéia, então cortaríamos a imagem e mostraríamos a cena 2, onde ele caía no chão do quarto, deixando claro que tudo não se passava de um sonho. Na semana anterior eu tinha feito um desenho descrevendo a seqüência (storyboard), que foi entregue ao pessoal da prefeitura. Mostrei também a toda a equipe e a alguns amigos, mas o curioso é que ninguém me perguntou como diabos filmaríamos o pulo. O palco do Paulo Afonso Folia fica a cerca de dois metros do chão, não é uma altura boa para aterrissar sem amortecimento. E no desenho que fiz ele se jogava realmente em cima da platéia. Uma solução fácil era chegar cedo e parar um caminhão na frente do palco, fazendo o ator se jogar em um colchão colocado na carroceria, mas nós não tínhamos onde conseguir o veículo.

Chuck é cantor, tem boa presença de palco e é desenrolado, mas não entende nada de guitarra. O personagem é um guitarrista que no sonho tem projeção, ou seja, naquela cena em particular ele é um sujeito que sabe dedilhar muito bem o instrumento. E a trilha sonora estava a altura, os solos eram realmente rápidos. Nestas condições uma imagem de frente, que mostrasse os movimentos das mãos de Chuck, não iria convencer. Poderíamos filma-lo de longe, evitando os detalhes, mas eu achava que a seqüência perderia realismo. Conversei com Chuck e decidimos convidar Deiveson para dubla-lo em plano fechado (close), mostrando apenas as mãos. Ambos têm cor de pele muito parecida, bastava que usassem a mesma roupa. No entanto, os braços de Chuck são mais peludos do que os de Deiveson, e as pessoas poderiam notar. Resolvemos isso utilizando uma camisa de manga comprida.

A equipe se reuniu três dias antes do evento para debater os trabalhos. Estávamos eu, Chuck, Deiveson e Driele. Eu pressupunha que a banda principal do evento chegaria cedo e faria todo o processo de ajuste dos equipamentos, voltando ao palco na hora do show. Também imaginava que teríamos muito espaço físico para fazer as imagens.

Como todo o resto da cena era fácil, nos concentramos na seqüência do pulo. A minha idéia era colocar um colchão no palco e enganarmos o espectador, trabalhando os ângulos de câmera e fazendo uma edição inteligente das imagens. Chuck não gostava da idéia, achava que esta história de ângulos simplesmente não passariam a idéia de que ele pulava do palco. Na verdade, ele tinha espalhado para todo mundo semanas antes que a cena seria mais ou menos assim:

"Astrobaldo está no camarim, esperando a hora de entrar. A platéia está ansiosa pela apresentação, o local está lotado de gente. Astrobaldo não agüenta a expectativa e vai para o palco, chega até a cortina e olha por ela para ver as pessoas"

Depois cortaríamos para a cena 2 e o ato de abrir a cortina seria confundido com ele tirando o lençol do rosto e caindo da cama. Mas isso não tinha nada a ver com o roteiro, e eu sinceramente achei esta seqüência muito pobre, perderia o impacto de ver o público agitando enquanto ele tocava. Debatemos bastante e chegamos a uma terceira alternativa: Astrobaldo tocaria, mas no meio do show ele se enrolaria com o cabo da guitarra e cairia. Eu achava que esta seqüência combinava mais com o perfil do personagem do que as outras duas, mas decidimos filmar todas as três e ver depois qual ficava melhor.

A primeira tentativa

Marcamos para chegar no local às 18h00. Nosso trabalho estava planejado para durar 20 minutos, estourando uma hora, mas resolvemos reservar outras duas horas para os contratempos. Todo mundo tem problemas, mas se você não tem dinheiro a probabilidade de alguma coisa dar errado cresce exponencialmente. Começamos por não termos arrumado uma filmadora de verdade. Driele tinha duas máquinas fotográficas digitais muito boas e eu tinha uma tão ruim que não valeria apena utilizar. A qualidade de filmagem das máquinas de Driele não faziam vergonha, e se filmássemos duas vezes com duas máquinas teríamos quatro ângulos de imagem, então resolvemos utiliza-las.

Quando chegamos a banda principal ainda estava na estrada, e ninguém sabia dizer que horas eles chegariam na cidade. Aproveitei para conversar com o pessoal da iluminação e do som. Pecisávamos das luzes piscando para dar um clima de show, e do nosso playback tocando no retorno mas sem sair pelas nas caixas da frente. O palco não estava arrumado, tinha apenas uma bateria desmontada e algumas caixas de som. Teríamos de esperar a banda chegar, arrumar tudo, passar som, testar equipamentos e aí sim, se desse tempo e tivéssemos autorização, filmaríamos. A equipe ficou o tempo todo esperando na avenida, conversando e comendo bolachas recheadas com refrigerante.

A proveitamos o tempo vago para gravar um making off, eu e Chuck. A banda veio chegar já depois das 21h00, todo mundo agitado e correndo contra o tempo para montar toda a parafernália do show. Eles entrariam 23h30, logo ainda tínhamos chance de fazer alguma coisa.

A banda da noite era o Biquini Cavadão. Procurei o produtor deles, e ele me pediu para esperar. Muito tempo depois me chamou, e disse que não ia dar, estavam atrasados e ainda tinham que voltar a Salvador na mesma noite para pegar um avião na manhã seguinte. Me pediu desculpas por não poder ajudar e autorizou que ficássemos no palco para fazer imagens do público durante o show.

Chamei todo mundo e avisei o que tinha acontecido. O pessoal foi curtir a festa, mas Driele e Chuck aceitaram subir no palco para fazer as imagens. Eu ficaria para dar suporte caso houvesse algum problema. Na hora de filmar Chuck sumiu e eu tive que assumir uma das câmeras.

Tentando mais uma vez...

O pessoal da prefeitura prometeu que no dia seguinte ia colocar a cortina. Marcamos de chegar um pouco mais tarde desta vez. O palco estaria à disposição da Margareth Menezes, que é da Bahia e provavelmente chegaria cedo, mas não víamos a necessidade aparecer antes das 20h00. Apenas eu precisava chegar antes, para fazer as articulações e deixar tudo "no gatilho".

O primeiro problema que encontrei foi a ausência da cortina. Me preocupava a reação dos atores ao simular uma apresentação na frente de 35 mil pessoas, com quase todo mundo que eles conhecem lá embaixo assistindo. Pior foi quando subi no palco e vi a estrutura da Margareth. Nosso personagem é um roqueiro frustrado, que na cena toca Heavy Metal. A Margareth é cantora de axé, que dança o show inteiro e precisa de espaço.

A configuração de um palco de rock é extremamente diferente de um palco de axé. Num palco de rock a bateria fica no meio, logo atrás dos músicos, junto com algumas caixas de som, e tem caixas de retorno na frente. Os músicos de rock geralmente sabem tocar e cantar, por isso se movimentam pouco e é comum usarem pedestais para os microfones. O som da Margareth é sustentado na percução, ela se movimenta muito, tem dançarinas e não toca instrumento algum.

Para as nossa filmagens, a configuração do palco era a pior possível: uma lona branca no fundo refletia toda a luz da frente, que já não era pouca. A percução estava no meio, com a bateria colocada de lado. Da metade para frente não tinha mais nada, esconderam até mesmo as caixas de retorno. A Margareth ia cantar com microfone sem fios, não precisava de pedestal. Sinceramente, aquilo não parecia nem de longe com um palco de rock, não tinha muitos ângulos para esconder os instrumentos, a iluminação não disfarçaria nada porque estava tudo muito claro, e o espectador iria sentir falta daqueles elementos básicos de um palco tradicional. Conversei com o produtor da banda e ele me colocou uma série de restrições, inclusive proibiu que usássemos a bateria.

Eu estava com vontade de perder esta noite e deixar para gravar na seguinte, com o palco da banda Eva. Mas seria uma decisão arriscada, porque se algo desse errado não teríamos outro dia para gravar. Procurei a organização do evento e descobri que Silvinho, músico da cidade, tocaria depois da Margareth e não se importava de nos ceder o espaço, inclusive colocou a banda dele à disposição para encenar. O maior problema era que eles se apresentariam lá pelas duas da manhã, e eu temia que a equipe não quisesse passar a noite toda trabalhando, ou que nesse meio tempo alguém se embriagasse. Na verdade, se houvesse disposição da equipe e Silvinho terminasse de tocar antes de amanhecer nós poderíamos montar o palco do nosso geito e fazer as melhores imagens.

Procurei a equipe para conversar. Deiveson adiantou logo que não poderia ficar até depois das 22h00. Maizena nem apareceu. Saulo se prontificou, Driele e Chuck também. A idéia era filmar no palco da Margareth em contra-plogée (de baixo para cima) por garantia, mostrando somente o que estava acima da cintura dos atores. Isso ia disfarçar os elementos do palco, mas não dava para ter mobilidade e as imagens ficariam muito pobres. Tentaríamos uma segunda vez depois do show da Margareth e se tudo desse errado pediríamos o palco depois do show do Silvinho. Na última hipótese ainda tínhamos o palco da banda Eva no outro dia.

Quando fizemos as primeiras imagens Driele ainda não tinha chegado e eu operei a câmera. Avisei a todos que estavam no palco que faríamos a encenação, mas não dissemos nada para o público. O mesário de som não quis colocar nosso playback para tocar nos retornos, e usamos um pen drive com fones de ouvido. O barulho externo era enorme, não dava para entender muita coisa mas funcionou razoavelmente.

Para conciliar as imagens com a configuração do palco decidi não mostrar os componentes da banda tocando juntos, fizemos as tomadas de cada ator um por um para depois juntarmos na edição. Deiveson e Saulo fizeram esta primeira seqüência quase parados, mas Chuck usou quase todo o espaço disponível e eu consegui boas imagens posicionando a câmera em um ângulo que pegava a partir da coxa dele, mostrando ao fundo as cabeças do público que estava mais longe e disfarçando a ausência dos retornos que, subentende-se, ficariam abaixo da linha de visão. Já tinha uma quantidade considerável de gente na rua, mas ninguém estava muito preocupado com o palco principal e não tivemos incidentes. Acho que fomos confundidos com o pessoal da banda passando o som.

Enquanto esperávamos Margareth tocar mostrei as imagens a Chuck, e ele pôde avaliar a própria performance. Depois fui providenciar um cubo para tocar nosso playback, já que na próxima tomada encenariam Saulo e Chuck ao mesmo tempo e precisávamos de um áudio em comum. Finalmente a Margareth saiu do palco, a equipe dela desmontou a estrutura e entrou o pessoal de Silvinho. No meio desta correria, conversei com ele e fiquei sabendo que o tempo estava apertado, não ia dar para fazer as imagens. Insisti e ele liberou alguns minutos.

Entramos correndo e filmamos com a equipe de Silvinho ainda montando as coisas. Na correria, esqueci de avisar o que estávamos fazendo, e como as pessoas esperavam a próxima banda, a atenção estava voltada para o palco principal. O trio elétrico tinha acabado de passar e o público que estava lá embaixo não era fã de rock. Driele assumiu a câmera, eu saí da cena, Saulo se movimentou muito pouco. Chuck incorporou um rockeiro e dançou feito louco, pulou, bateu cabeça, fez performances invejáveis. Os auto falantes do palco estavam desligados, o som do trio tocava pagode e era tão forte que não dava para escutar nosso playback. A platéia não entendia nada do que estava aconcetendo, e os mais afoitos começaram a falar palavrões. Alguém jogou uma lata de cerveja no palco. Nossa sorte foi que o locutor pegou o microfone e avisou ao público que estávamos fazendo um filme.

Coletamos boas imagens. Ao invés de quatro ângulos de câmera ficamos com apenas um. Ao todo, foram quase doze horas de trabalho sem considerar a escrita do roteiro, planejamento e edição. A seqüência depois de editada, incluindo os créditos, logomarcas e passagens em preto, não dura mais do que dois minutos e quarenta segundos. A cena mesmo, aquilo que interessa para o filme, tem apenas um minuto e meio.

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