quarta-feira, 22 de outubro de 2008
Mercahdising do filme terá livros e CD
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Roteiro está concluído e revisado
Filme será licenciado em Creative Commons
Sonoro Silêncio by Samuel Hermínio e josé Edson Chuck is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 2.5 Brasil License.
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quinta-feira, 2 de outubro de 2008
Cenas 48 a 52
Jorge, Sei Não e Astrobaldo acabaram de entrar. Sei Não e Astrobaldo estão levemente adiantados em relação a Jorge. Jorge tranca a porta e disfarçadamente retira a chave.
Astrobaldo e Sei Não observam o ambiente.
Sei Não e Astrobaldo saem de perto de Jorge, ficam olhando os objetos da sala.
ASTROBALDO
Quem é o dono desta casa?
JORGE
Alguém muito especial, principalmente para você...
ASTROBALDO
Como assim?
JORGE
Está vendo aquela porta ali? (aponta para a porta do quarto, fechada. Movimenta-se na direção do sofá). Atrás dela está a mulher da sua vida... Te esperando!
Astrobaldo está um misto de desconcertado e emocionado.
ASTROBALDO
A... A... A Jane... Está lá???
Jorge vai devagar até o sofá e se joga, sentando-se muito à vontade.
JORGE
Sim, ela mesma. E então, vai ficar aí me olhando??? acha que ela vai te esperar o dia todo???
Sei Não está atrás do sofá, apoiando o corpo com os cotovelos (como quem observa a rua na janela).
Astrobaldo está inseguro, olha para a porta e vacila por um segundo, depois se movimenta.
Astrobaldo vai na direção da porta.
Astrobaldo pega na maçaneta. A chave está colocada do lado de fora, mas o trinco está destrancado. Abre a porta, deixando uma brecha suficiente para olhar o que tem lá dentro.
Quarto
O quarto está escuro, iluminado apenas pela luz que vem de fora. Astrobaldo coloca a cabeça pela brecha e depois passa o corpo, encostando a porta atrás de si e se apoiando nela. Uma luz se acende, a partir de um abajur localizado do outro lado do aposento.
Edjanete está deitada na cama, pernas cruzadas e fumando. Há um cinzeiro próximo a ela. Veste uma minisaia e uma blusa com decote, buscando ser o máximo provocativa. Está séria, não encara Astrobaldo de frente.
EDJANETE
(friamente)
Então você é o meu admirador?
Astrobaldo vem se aproximando lentamente, até se sentar na pontinha da beirada da cama.
ASTROBALDO
Eu... Eu... Eu acho que amo você!
Edjanete olha Astrobaldo pela primeira vez, dá um sorriso malicioso e sarcástico. Levanta-se, leva consigo o cinzeiro para a beirada da cama. Passeia pelo quarto, anda devagar e sensual, rebolando. Para de frente com a parede. Astrobaldo a acompanha com os olhos.
EDJANETE
Me ama... (risos sarcásticos) ... você acha que me ama?
Vai na direção de Astrobaldo.
Pega-o pelo queixo e encosta o rosto no dele, olho no olho. Ela está séria. Dá uma baforada lenta e volumosa da fumaça do cigarro, bem no rosto de astrobaldo.
EDJANETE
Você ainda é um franguinho!
Afasta-se de Astrobaldo, vira as costas para ele. Dá gargalhadas expontaneamente. Fica pensativa. Vira-e para
EDJANETE
Acho que você se enganou sobre mim...
Vira-se para Astrobaldo e o encara.
EDJANETE
Será que você gosta mesmo de mim...ou daquilo que eu pareço ser?
Edjanete volta a andar, lentamente. Vai até o cinzeiro e deposita as cinzas do cigarro.
EDJANETE
(olhando para a parede, pensativa)
Preciso te falar uma coisa...
Vira-se para Astrobaldo, chega a meia distância de onde está.
Levanta a saia pelos lados, de modo que a parte da frente cubra as áreas de interesse. Astrobaldo
Astrobaldo está excitado, nervoso.
Edjanete tira a calcinha, e deixa-a cair até as pernas.
Astrobaldo está enlouquecendo.
Edjanete anda até Astrobaldo. Para na frente dele, de pé. Ele não consegue tirar os olhos das partes íntimas dela, ainda que encobertas pela saia.
EDJANETE
Não tenho culpa do que sente por mim. Mas se quiser ser meu amante, vai ter que gostar disso aqui!
Edjanete levanta a parte da frente da saia.
Astrobaldo fica estarrecido, faz uma careta. Entra em pânico e corre.
Sala
Astrobaldo sai do quarto desesperado, correndo muito, deixa a porta aberta.
Astrobaldo corre até a porta de saída e tenta abri-la. Está trancada. Jorge e Sei Não estão no sofá, apenas observando.
ASTROBALDO
A chave!!! cadê a chave!!!
Jorge movimenta-se levemente, apelas para tirar a chave do bolso.
Balaça na frente de Astrobaldo.
ASTROBALDO
(correndo para pegar a chave de Jorge)
Abre isso logo, vamos embora daqui!!!
Jorge evita que Astrobaldo pegue a chave.
ASTROBALDO
Me dá logo essa chave, não é brincadeira não!!!
JORGE
Que foi, cara?? Tá com medo da mulher???
ASTROBALDO
(querendo explicar a Jorge, com palavras e gestos)
Ela não é mulher!!! ela não é mulher!!!
Jorge fica rindo de Astrobaldo. Este tenta pegar a chave e não consegue.
ASTROBALDO
Vamos embora daqui!!!vamos embora daqui, por favor...
Astrobaldo começa a chorar.
JORGE
O que foi, rapaz??? ela não morde ninguém, a menos que você queira... (pausa)
ASTROBALDO
Você fala assim porque não é você...
JORGE
Que foi, velho, está decepcionado com sua amada??
ASTROBALDO
(fazendo um gesto com as mãos)
Ela tem um negócio deste tamanho...
JORGE
Não se preocupe com isso, não é essa a ferramenta que ela gosta de usar.
ASTROBALDO
Vamos embora pra casa...
JORGE
Pra que?? pra você ficar chorando o dia todo??? ahhhhh, não, meu querido, essa daí você vai ter que encarar...
Jorge se levanta. Astrobaldo tenta correr, mas Jorge é rápido e o segura. Astrobaldo tenta se livrar, em vão.
Jorge arrasta Astrobaldo para o quarto, abre a porta e joga ele lá dentro, depois tranca a fechadura por fora.
Um grito de Astrobaldo faz-se ouvir lá de dentro.
Aporta de entrada abre, Astrobaldo entra. Sei Não está deitado no sofá, Jorge está sentado no chão fumando cigarro de palha.
ASTROBALDO
(tranquilo)
Oi, pessoal.
SEI NÃO
(sentando-se, para dar lugar a Astrobaldo)
Chegou o namorador!
JORGE
Pois é, agora não sai mais da casa da mulher...(risos)
ASTROBALDO
(senta-se ao lado de Sei Não)
Cadê Cida???
JORGE
Acho que ela foi no banheiro.
ASTROBALDO
O dia da apresentação está chegando...
Cida chega, senta-se ao lado de Jorge. Este a abraça.
JORGE
Esquenta não cara, agente está afiado.
ASTROBALDO
É a nossa primeira apresentação, temos que garantir alguma qualidade.
JORGE
Todo mundo aqui se garante, cara.
ASTROBALDO
Vamos pelo menos passar as músicas...
SEI NÃO
A Edjanete vai ver show??
ASTROBALDO
Não, ela tem que trabalhar.
SEI NÃO
Que pena!
ASTROBALDO
Então vamos a atividade, né cambada!
Os quatro se levantam, se posicionam e começam a tocar.
Cena 50
Cida entra correndo, sorrindo, vez em quando olhando para trás. Jorge a persegue, também rindo, e consegue alcança-la. Pega no braço dela, ambos caem e rolam pelo chão.
Jorge para em cima de Cida, ambos trocam olhares.
Astrobaldo e Sei Não chegam e se jogam em cima de Jorge e Cida, fazendo "bolinho". O grupo se levanta, dá as mãos e começa a rodar em ciranda. Fazem um abraço coletivo e vomeçam a pular.
Os quatro estão abraçados e pulando, no meio do público. O ambiente está lotado. Uma banda toca rock pesado. Um funcionário da produção chega até Astrobaldo e cochica no ouvido. Astrobaldo reúne os outros e saem na direção do camarim.
Camarim
Astrobaldo, Jorge, Sei Não e Cida entram no camarim. Apolinário Ferreira está muito irritado.
APOLINÁRIO FERREIRA
Onde vocês estavam? A banda já está quase no final do show!! está quase na hora de vocês entrarem!!!
JORGE
Estamos aqui, e estamos prontos.
APOLINÁRIO FERREIRA
Onde estão os instrumentos???
SEI NÃO
No palco. Já deixamos lá desde cedo.
Ouve-se a banda terminar o show e fazer os agradecimentos. O locutor anuncia a Grito Distorcido.
APOLINÁRIO FERREIRA
Vamos, vamos, já é a hora de vocês entrarem!
Jorge, Astrobaldo, Cida e Sei Não entram no palco.
Palco
O público ainda está agitado. Astrobaldo está visivelmente nervoso. Cida está assustada, sem reagir, olhando todo aquele mudaréu de gente. Jorge conserva um sorriso sarcástico. Astrobaldo vai para o lado direito do palco, Jorge conduz Cida até o centro, junto ao microfone, e se posiciona do lado esquerdo. Há microfones também para Astrobaldo e Jorge. No centro, atrás de todos, está a bateria. Sei Não senta nela e estranha. Chama um dos funcionários da produção.
SEI NÃO
Cara, eu não toco nisso aqui não, velho, prefiro a minha.
Funcionário da produção
O seu pessoal não montou nada não. Vai ter que ser essa aí ou então conversa com o Apolinário.
Sei Não o ignora, levanta-se e pega o banquinho onde estava sentado, levando-o para a parte da frente, bem atrás de Cida.
Espectador (V.O.)
Ei, aquilo é uma camisa de força???
JORGE
(eloqüente, no microfone)
Aê pessoal, nós somos a banda Grito Distorcidoooo. Hoje, vocês (aponta para o público) vão ter uma experiência surreal!!!! (solta um grito, simulando um animal).
Sei Não levanta as baquetas, dá três toques ritmados e Astrobaldo finge estar tocando guitarra. Jorge finge tocar baixo, mas canta as notas com a boca. Sei Não finge tocarbateria. Cida está paralisada, com vergonha do público e sem entender nada. O público se cala por um breve momento. Astrobaldo faz coreografias, Jorge acompanha.
Montagem paralela
João Meniele procura Apolinário Ferreira, nervoso. Dá para ouvir a vozde Jorge, simulando as notas do baixo com a boca.
JOÃO MENIELE
O que é isso, Apolinário???
APOLINÁRIO FERREIRA
(Se defendendo, sem entender)
É uma das bandas que você me indicou para contratar...
JOÃO MENIELE
Indiquei o quê, Apolinário??? Você tá querendo me fuder???
APOLINÁRIO FERREIRA
Te fuder que nada, João (mostra a lista) olha aqui...
Os dois discutem acaloradamente.
PalCO
O público começa a vaiar.
Alguém no Público (v.o.)
Eu não gastei dinheiro para ver esta porcaria!!!
ALGUÉM NO PÚBLICO (V.O.)
Tão tirando onda com a cara da gente!
ALGUÉM NO PÚBLICO (V.O.)
Quebra esses filhos da puta!!!!
Uma confusão generalizada explode no salão, os seguranças não conseguem conter. Algumas pessoas sobem no palco e puxam Jorge mais Astrobaldo para baixo. Sei Não tenta correr, mas também é segurado.
Cena 52
Jorge vira a esquina, correndo, pegado no braço de Cida. Para, rapidamente olha para os lados e se dirige para a porta de uma das casas. Encosta Cida, olha-a nos olhos e beija-a na boca. Astrobaldo vira a esquina correndo e passa direto, seguido por Sei Não. Uma multidão os persegue, mas ninguém dá atenção a Jorge e Cida, que continuam se beijando. A multidão acompanha Astrobaldo e Sei Não, segurando-os pela camisa. A imagem paralisa. Ouve-se um grito de Sei Não e Astrobaldo.
FIM
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segunda-feira, 29 de setembro de 2008
Cenas 41 a 47
CIDA está sentada em uma cadeira de balanço, se balançando. ASTROBALDO e SEI NÃO estão sentados próximos a ela, em um banco, conversando. Cida não presta atenção aos dois. JORGE CHEGA de surpresa, por trás de Sei Não e Astrobaldo, agitado. Pula o banco e se senta ao lado dos outros. Ambos tomam um susto com a chegada de Jorge.
UUUUUUHHHHUUUUU!!!!! conseguii!!!
SEI NÃO
Que foi, Jorge, viu passarinho verde foi?
Medium CLOSE UP: Jorge
JORGE
Nós vamos tocar, cara, temos uma apresentação com cachê e tudo!!!!
ASTROBALDO
Tá viajando, Jorge??? que é que tu andou fumando???
JORGE
Ahhh, eu não disse que conseguia??? vocês estão pensando que eu sou brincadeira, é???
E quem foi o louco que nos contratou???
JORGE
Advinha...
SEI NÃO
Desembucha logo, porra!
JORGE
Ninguém menos que o João Meniele!
ASTROBALDO
Quem??? João Meniele??? Nunca na sua vida!!!! aquele ali só contrata banda de nome, nunca ia contratar gente como nós, por melhor que fosse nosso som!
JORGE
Ah, mas vocês não têm as manhas...
SEI NÃO
Tu tá pensando que agente é besta?? eu sou quem não vou engolir suas cordas.
JORGE
Pois então espere. Amanhã este celular aqui...
...vai tocar e vocês vão ver quem está viajando!!!
Alô, aqui é da Ferreira Meniele Produções. O senhor é da banda Grito Distorcido??
ASTROBALDO
(exita antes de falar)
Sim... sou sim.
SECRETÁRIA DE APOLINÁRIO (V.O.)
Com quem eu estou falando??
ASTROBALDO
Astrobaldo, guitarrista da banda.
SECRETÁRIA DE APOLINÁRIO (V.O.)
Pois bem seu Astrobaldo, queremos contratar um show de vocês. Tem como mandar alguém aqui no escritório para conversar conosco??
ASTROBALDO
S..sim, claro!
SECRETÁRIA DE APOLINÁRIO (V.O.)
Podemos agendar para hoje às três horas?
ASTROBALDO
S...sim, claro... estaremos aí.
SECRETÁRIA DE APOLINÁRIO (V.O.)
Obrigada, senhor. Estaremos esperando.
UUUUU, conseguimos!!! conseguimos!!!!
Conseguimos! conseguimos!
SEI NÃO
(acorda assustado)
Que foi, cara!!! tá ficando maluco, é???
O pessoal da Ferreira Meniele Produções acabou de ligar!!! vamos tocar, cara, vamos tocar!!!
SEI NÃO
(histérico, levanta-se e vai pular junto com Astrobaldo)
UUUUUUUU, AHHHHHHH, AHHHHHHH!!!!!!
JORGE
(levanta-se para comemorar com os outros)
Não falei! não falei!!! vocês pensaram que era brincadeira??? E agora??? num falei???
JORGE, SEI NÃO, ASTROBALDO E CIDA pulam animados. Param de pular e sentam-se em uma mesa. Há uma garrafa de cerveja aberta e quatro copos. Sei Não levanta o copo propondo um brinde, todos levantam tabém o tocam os copos uns nos outros, depois na garrafa. O grupo bebe e conversa bastante.
Uai, o Alemão!!!!!
Cena 45
Socorro, querem me matar!!! alguém me ajude!!!
Sei Não e Jorge tentam acalma-lo e afasta-lo do portão.
SEI NÃO
Calma! calma! estamos com você, calma!
ASTROBALDO
Ele vai me matar!!!
JORGE
Cara, por mais alma ceboza que ele seja, não vai querer te matar na frente de um montão de crianças....
ASTROBALDO
Ele é louco! vocês não o conhecem, ele é insensível, é capaz de faer qalquer coisa!!! ahhhhhh, eu não quero morrer!!!!
SEI NÃO
Tá bom, então vamos por outro caminho.
ASTROBALDO
Ele me viu!!! ele me viu, e vai querer me seguir pelo outor caminho também!!! eu não quero morrer!!!!
JORGE
Astro, agente tem que ir embora, se ficar aqui é pior, porque ele pode vir te buscar...
ASTROBALDO
(correndo na direção do portão)
Eu não quero morreeeerrrr!!! socorro, me ajudem!!! abram aqui!!!
Jorge e Sei Não correm para acalma-lo e afasta-lo de novo. Jorge tira o telefone celular do bolso.
JORGE
Quer saber, minha paciência está curta hoje. A polícia é quem vai se virar com esse cara.
Jorge disca para 190. Astrobaldo toma o celular e desliga.
ASTROBALDO
Nãaaao!!! eles são todos amigos do Alemão, tudo máfia. Eles podem me levar pra umas quebradas, podem querer me bater, me expor ao ridículo... Ahhh, eu não quero morreeeeerrrr!!!
Jorge perde a paciência e avança em Astrobaldo, segurando-o pela camisa.
JORGE
Olha, eu já tô de saco cheio desse Alemão, e seja lá quem for esse filho da puta agente vai enfrentar ele agora!!!
Jorge arrasta Astrobaldo, que tenta resistir e correr mas não consegue. Sei Não está confuso, tenta pesuadir Jorge a deixar Astrobaldo mas não tenta impedi-lo.
SEI NÃO
Calma Jorge, deixa ele!!!
ASTROBALDO
Me larga, me larga!!!por favor!!! eu não quero morreeeerrr!!!
JORGE
Ahhhhh, ou você vira homem hoje, ou então quem te mata sou eu!
JORGE
Quem éo Alemão aqui???
ALEMÃO
(com geito de "macho")
Eu sou o Alemão!
ASTROBALDO
Não me mate!!! não me mate!!!
ASTROBALDO
Por favor, não deixem que ele me mate!!! eu não quero morrer!!!!
Cara... você precisa de uma namorada!
JORGE
Agora ele vai passar a noite toda chorando!!!
SEI NÃO
O que será que o Alemão fez com ele???
JORGE
Não faço a mínima questão de saber.
SEI NÃO
E nós, o que vamos fazer????
JORGE
(se levantando)
Acho que sei do que ele está precisando...
Jorge se dirige até a porta.
SEI NÃO
Onde você vai?
JORGE
Vou ver se acho um atídoto para este chorão.
Jorge SAI e fecha a porta.
Cenas 32 a 40
SEI NÃO
A Cida cozinha bem, né...
JORGE
E canta também, né, diz aí!!!
ASTROBALDO
É... até que eu gostei.
SEI NÃO
Eu só acho ela meio caladinha...
ASTROBALDO
Pois é... Se eu não tivesse visto ela cantar diria que é surda-muda...
JORGE
(cortando a fala de Astrobaldo)
Sim... mas mudando de assunto... O qu vocês acham de arrumar uma apresentação para a banda?
SEI NÃO
Acho que agente deveria ensaiar um pouco mais.
JORGE
Que é isso! agente já tá entrosado, dá pra fazer um show e tanto...
ASTROBALDO
É, mas tem que ter um material pra apresentar ao produtor, quem vai nos contratar sem conhecer nosso trabalho???
JORGE
(dá um sorriso malicioso)
Isso você deixa comigo.
Cena 34
JORGE
Pois é, Nildo, você tem queme quebrar esse galho!
NILDO
E você acha mesmo que consegue convencer o cara? nestas condições??
JORGE
Deixa que eu me viro, Nildo. Você tem que me arrumar a roupa e o celular, se não ele sequer vai olhar na minha cara.
NILDO
A roupa e o celular não vão fazer ele olhar para você, ele nem te conhece! Outra coisa, você tem certeza que a lista vai estar lá?? e se não tiver nada?
JORGE
Conversei com uns amigos. Quem contrata é o Apolinário Ferreira, mas quem indica é o João Meniele. Não tem erro, ele sempre fica lá no bar, tomando seu wiskizinho, esperando o Apolinário passar para pegar a lista.
NILDO
Cara, isso pode dar confusão. Já pensou se ele perceber?
JORGE
Perceber como? o cara odeia computador, a lista sempre vai manuscrita e você sabe que eu manjo destas coisas. Se você fizer como eu falei ele só vai saber o que está acontecendo na hora do show.
NILDO
Sei não, Jorge. As roupas e o celular eu arrumo, mas o resto do seu plano eu não posso garantir.
JORGE
Quebra esse galho, pô. Eu só posso contar com você!
João Meniele chama um garçom. NILDO ao fundo o observa. O GARÇOM chega, João Meniele pede uma bebida, o garçom SAI. Nildo pegao telefone e faz uma chamada.
O homem chegou.
JORGE
Ok, estou indo.
João Meniele!?? João Meniele, é você mesmo, rapaz!!! que satisfação em reve-lo!!!!!
Não me lembro de já ter visto o senhor...
JORGE
Que é isso, João! Agente se conhece desde moleque, rapaz, lembra não??? lá na quarta série, os caras querendo bater na gente, agente dava cada carreira, lembra não???
JOÃO MENIELE
(tentando não dar muita atenção a Jorge)
Acho que o senhor está me confundindo com outra pessoa.
Nildo se levanta, toma o copo de cachaça de uma vez, pega o copo de vodka e vem andando a passos trôpegos na direção de João Meniele e Jorge.
Não, eu tenho certeza que é você. Você é quem não está se lembrando (jorge puxa uma cadeira para sentar).
JOÃO MENIELE
Olha, eu sinto muito, mas estou esperando uma pessoa, e já vi que esta conversa não vai dar em nada.
Mas o que é isso!!??? o senhor está cego???
NILDO
Pô cara, foi mal... desculpe.
JORGE
(pega guardanapos e tenta socorrer João Meniele)
Puxa vida, que desastre, deixa eu ajudar o senhor...
JOÃO MENIELE
(ignorante)
Deixa que eu sei me limpar sozinho! E você, saia daqui antes que eu te meta um processo!
Saia você da minha frente também, que eu já estou cheio de atender puxa-sacos!!!!!
Desculpe o atraso, tive um imprevisto. O que aconteceu com a sua camisa?
JOÃO MENIELE
Um bêbado abestalhado derramou um copo de bebida em mim. E ainda teve um xarope aqui querendo me engabelar!
APOLINÁRIO FERREIRA
A lista está pronta?
JOÃO MENIELE
Sim, (pega a lista e entrega a Apolinário) aqui está.
quinta-feira, 25 de setembro de 2008
Cenas 30 e 31
WIDE: Fast motion, cama de Astrobaldo
Astrobaldo está deitado na cama. O tempo passa, anoitece e ele continua lá, vez ou outra se mexendo. Sei Não aparece de vez em quando, tenta fazer ele comer o jantar, mas Astrobaldo se recusa a cooperar. No meio da madrugada Jorge entra e dá uma olhada em Astrobaldo, depois forra o chão e sai.
Cena 31
Astrobaldo acorda, não está mais chorando. Olha para o local onde Jorge costuma dormir e vê alguém deitado, totalmente enrolado no lençol de forma que não dá para ver nenhuma parte do corpo. Vai para o banheiro. Para em frente ao armário, olha-se no espelho, depois abre a portinha, pega uma escova de dentes e fecha.
Astrobaldo escova os dentes e lava a boca. Vira-se e sai do banheiro.
Astrobaldo olha para a pessoa deitada no chão. É uma mulher, agora com a cabeça descoberta. Astrobaldo se assusta.
ASTROBALDO
(gritando e gesticulando)
Mas o que é isso!? Tão pensando que aqui é casa da Mãe Joana?
A mulher não reage aos gritos de Astrobaldo, continua dormindo.
ASTROBALDO
(grita e gesticula mas nunca toca na mulher)
Ei, você, acorde! vamos, anda logo, vamos, arrume outro lugar pra ficar porque aqui não é hotel não!
A mulher se vira, continua dormindo. Astrobaldo está impaciente, continua falando de longe e gesticulando, mas sem nunca toca-la.
ASTROBALDO
Ei,acorda, acorda, vamos, vamos...
A mulher continua sem reagir. Astrobaldo se retira, indignado.
SALA
Astrobaldo entra na sala. Sei Não está dormindo no sofá, jorge está encostado na parede com uma panela nas mãos, o conteúdo em chamas e ele cheirando a fumaça, comportamento claramente alterado, em estado de "lombra". Astrobaldo se aproxima de Jorge.
ASTROBALDO
(Mãos na cintura, tom moralista)
Mas o que é isso, Jorge!?
JORGE
(cheirando o vapor e com geito de maluco)
Meu irmão, eu já tô muito doido...
ASTROBALDO
(toma a panela das mãos de jorge)
Me dá isso aqui! Mas que diabos é isso????
JORGE
Pô, velho, se quer cheirar faça o seu.
ASTROBALDO
E eu lá tenho cara de usuário de drogas?
JORGE
Qualé mano, isso é pó de café com sabão, misturado com alcool para incendiar. Você cheira a fumaça e dá a maior viagem...
Astrobaldo abafa a panela e apaga o fogo.
ASTROBALDO
Já basta eu ter que agüentar vocês sóbrios. Quem é aquela mulher lá em cima?
JORGE
É a Cida, uma amiga que conheci esta semana.
ASTROBALDO
(visivelmente irritado)
E é assim, é!?? você conhece a mulher do nada e já chama pra morar na minha casa?
JORGE
Calma, Astro. ela é fundamental pra nossa banda.
ASTROBALDO
E quem disse que a banda precisa de uma mulher?
JORGE
É a nossa vocalista, pô.
ASTROBALDO
O que??? você tá ficando doido?
JORGE
Vai montar uma banda só de instrumental, Astro? Cola não, velho, o público gosta mesmo é de ouvir a voz de um cantor... e ter mulher no vocal tá na moda.
ASTROBALDO
Que vocal o quê, rapaz, deixa de conversa furada!
JORGE
Conversa o quê, Astro? O vocal é quem dá aquele clima, entendeu? Como se o som conversasse com o público através da poesia. A galera quer dialogar com a música, irmão, vai por mim. Tem que ter um vocal sim, se não agente não vai sair nunca do anonimato, veja bem o que eu tô te dizendo.
ASTROBALDO
O Lord da guitarra não tem vocalista e faz o maior sucesso! Vai la ver o show dele e pergunta se alguém sente falta de um vocal.
JORGE
E você quer se comparar com o cara é? agente tá só começando, ele já tem muitos anos de estrada.
Sei Não acorda, ainda preguiçoso e mole.
SEI NÃO
(ainda se espreguiçando)
Que é que tá pegando??
ASTROBALDO
Jorge arranjou uma mulher pra cantar na banda.
SEI NÃO
Maaaaassaaaaa!!!!
ASTROBALDO
Massa nada! agente não precisa de uma cantora.
SEI NÃO
Deixa pra ver, ué. Se não ficar legal depois agente dispensa.
ASTROBALDO
E ele ainda por cima trouxe a sujeita pra morar na minha casa!
SEI NÃO
Tem espaço. Agente arruma um lugarzinho pra ela aí e ela dorme.
ASTROBALDO
Mas só me faltava essa... Quando a Edjanete souber disso, vai querer me matar!
SEI NÃO
Ué, e você tem namorada? nunca falou dela pra gente...
ASTROBALDO
(constrangido)
Namorada não... é um... é um... um esquema.
SEI NÃO
Vocês estão ficando, então.
ASTROBALDO
Não é bem isso... agente... agente está se... entendendo.
SEI NÃO
Será que agente conhece a figura?
ASTROBALDO
O nome dela é Edjanete. Trabalha naquela loja de sapatos perto da feira.
JORGE
(dando gargalhada)
Cara, você está comendo a Edjanete???
ASTROBALDO
Tá com ciúme, é?
JORGE
(enfático e rindo)
Eu mesmo não!
ASTROBALDO
Ainda não tá rolando nada, mas agente está avançando. logo, logo agente vai se entender.
JORGE
Meu irmão, tu ainda está queixando ela, é??? Fala sério!!!!
Cida entrando, bocejando e se espreguiçando. Ela tem um geito tímido, olhar sempre disperso, usa uma saia colorida, com uma camisa simples. Jorge, Astrobaldo e Sei Não olham pra ela.
ASTROBALDO
Finalmente a bonitinha acordou...
SEI NÃO
Essa aí é a mulher??
Jorge se levanta, animado. Cida observa tudo, quieta.
JORGE
(Em tom formal, abre os braços e extende a mão para Cida)
Isso mesmo, meus amigos, eu vos apresento a nossa nova vocalista, Cidaaaaaaaa.
Cida vê o gesto de Jorge e retribui segurando a saia com as mãos (uma de cada lado), flexionando ligeiramente as pernas e inclinando um pouco o corpo para frente. Permanece onde está, observando todos.
ASTROBALDO
Muito bem, Cida. Então você é quem vai ser a vocalista da nossa banda, né...
JORGE
(interrompendo Astrobaldo)
Ei, agente nem deu um nome pra banda!
SEI NÃO
É mesmo, tem que ter um.
ASTROBALDO
E aí, vocês têm alguma idéia??
JORGE
Não me veio nada ainda...
SEI NÃO
Já sei! vamos chamar "BUUUU".
JORGE
Oooxee, que idéia é essa Sei Não? mas que nome doido...
SEI NÃO
Doido porque? é um nome totalmente Rock n' Roll, cara, simples, direto, sombrio...
JORGE
Nada a ver, nada a ver. Tem que ser algo mais racional, sei lá... Tem alguma idéia Astro???
ASTROBALDO
Eu mesmo não. Não sei, talvez alguma coisa tipo... A... Astro... Astro... sei lá...
JORGE
Ah, já sei! Que tal chamar "Grito Distorcido"???
SEI NÃO
É, acho que podia ser.
ASTROBALDO
Por mim tudo bem.
JORGE
Então pronto. Agora somos o Grito Distorcido, de Paulo Afonso para o mundoooooo.
ASTROBALDO
Sim, e a Cida? (fala para a cida) Jorge disse que você é cantora. Você sabe mesmo cantar?
JORGE
Ela canta tão bem quanto você toca guitarra!
SEI NÃO
Vamos deixar de conversa furada. Que tal se agente tirasse um som e ela nos mostrasse o que consegue fazer??
Jorge vai até Cida, estende a mão e ela retribui extendendo a dela. Jorge beija a mão de Cida e a conduz até o centro da sala. No caminho ela passa por Sei Não, estranha a camisa de força e para observando.
SEI NÃO
Comprei em Washington, dizem que todo mundo lá tá usando...
Jorge puxa Cida para afasta-la de Sei Não. Sei Não leva um banco para próximo da parede, mais ou menos centralizado com o vão da sala. O grupo forma uma roda: Sei Não, Jorge, Cida e Astrobaldo, dispostos em sentido horário.
Jorge está com as mãos vazias. Faz de conta que tem um baixo e começa a tocar e cantarolar uma passagem com a boca, como se fosse o som do instrumento.
O grupo todo começa a tocar, mas ninguém tem instrumento. Cida observa Jorge e os outros, depois começa dançar por imitação, compassada e levemente, mas fora do ritmo.
câmera em Jorge
Jorge está simulando tocar baixo, mas não tem instrumento nenhum nas mãos.
câmera gira até Cida
FX: música cantarolada por Jorge
Cida está próxima a um pedestal com microfone, mas não dá atenção ao objeto, é como se ele não existisse. Permanece dançando o tempo todo, sem se preocupar com o ritmo da música.
Câmera gira até Astrobaldo
FX: Música com evidência de guitarra, Crescendo (fade in) na medida em que a câmera sai de Cida para Astrobaldo.
Astrobaldo está segurando uma guitarra e dançando.
Câmera gira até Sei Não
FX: Transição (sincronizada com a câmera) para uma música com predominância de bateria, diferente da anterior.
Sei Não está sentado em uma bateria, tocando.
Câmera gira até Jorge
FX: Transição (sincronizada com a câmera) para uma música com predominância de baixo, diferente da anterior.
Jorge está dançando com um baixo na mão, mas faz apenas coreografias, sem tentar tocar o instrumento.
FX: Mistura de todas as músicas anteriores
A banda está com os intrumentos. Astrobaldo e Sei Não tentam tocar. Cida dança despreocupada, virada para a banda e de costas para o microfone. Jorge faz coreografias malucas com o baixo na mão, mas não tenta toca-lo. Jorge para de dançar repentinamente.
Jorge está com as mãos levantadas, sem nenhum instrumento.
JORGE
Para! Para todo mundo!
FX: pára a música, som ambiente
A banda para de tocar, ninguém tem instrumento algum nas mãos e o pedestal com o microfone também não está lá. Cida para de dançar e fica olhando para Jorge, sem saber o que está acontecendo. Enquanto os rapazes discutem ela se afasta e começa a se entreter com os objetos da sala.
JORGE
Que tal se agente tentasse tocar a mesma música?
SEI NÃO
E que música você quer tocar?
JORGE
Eu sei lá, qualquer uma.
ASTROBALDO
Tem que ver quais músicas a Cida sabe cantar, né.(para Cida) Diz aí, Cida, você tem alguma sugestão?
Cida não presta atenção em Astrobaldo, nem faz questão de participar da conversa.
JORGE
(Interrompendo, para trazer a atenção do grupo para si)
Acho que podia ser aquela música...
SEI NÃO
Qual? aquela?
JORGE
Sim, aquela mesmo.
ASTROBALDO
De que música vocês estão falando?
SEI NÃO
Oxe, aquela, rapaz, você não se lembra?
ASTROBALDO
(Pensativo)
Aquela?? ahhh, aquela, lembrei! Ô Cida, você sabe cantar aquela música?
JORGE
(interrompendo)
Mas é claro que ela sabe! Vamos logo que o tempo está passando.
Jorge se aproxima de Cida e a pega carinhosamente pelo braço.
Jorge conduz Cida até o seu lugar na roda.
Jorge se prepara para tocar, e começa.
O grupo está agora com os instrumentos. Começam a tocar, da mesma forma que da vez anterior.
FX: Trilha sonora da banda
quarta-feira, 17 de setembro de 2008
Cenas 26 a 29
Master: câmera na calçada oposta ao restaurante. Astrobaldo Sei Não e Jorge atravessam a rua, entram no estabelecimento e se sentam em uma das mesas.
Cena 27
Astrobaldo, Sei Não e Jorge estão sentados na mesa, esperando servir o almoço. O restaurante tem mais de uma porta de acesso. Astrobaldo está de frente para a câmera e para uma das entradas do estabelecimento. Há uma outra porta ao lado ou atrás de Astrobaldo, em posição visível para a câmera. Sei Não está sentado à direita do vídeo, de frente com jorge que está do lado esquerdo. A mesa ao lado da mesa em que estão sentados, do lado onde Jorge está sentado, está vazia e desarrumada, com uma ou mais cadeiras recuada. Jorge está confuso e inquieto. Um dos funcionários do restaurante se aproxima.
Funcionário do restaurante
O que vocês vão comer?
SEI NÃO
Traz três PF e uma garrafa com água.
FUNCIONÁRIO DO RESTAURANTE
(sem geito de perguntar)
he...humm...Isso aí é uma camisa de força?
SEI NÃO
(enfático, certo do que está falando)
Roupa social, última moda em Paris!
O funcionário se retira, muito desconfiado.
JORGE
Vocês querem mesmo montar esta banda?
SEI NÃO
O que foi, Jorge? vai começar de novo?
ASTROBALDO
Cara, nós temos talento! talento não é pra ficar guardado não, velho, temos que mostrar para o máximo de pessoas possível.
JORGE
Mas vocês simplesmente não são uma banda!
ASTROBALDO
Pronto! lá vem ele de novo com aquela história dos instrumentos que não existem...
JORGE
Qualé, vai me dizer que você tem uma guitarra?
ASTROBALDO
E aquilo ali é o que?
Astrobaldo aponta para uma mesa que está ao lado de Jorge, recuada.
A câmera gira para enquadrar jorge e a outra mesa.
Há uma guitarra encostada na cadeira. Jorge olha para a cadeira.
CLOSE UP: Jorge, de frente
Jorge começa a rir, compulsivamente.
JORGE
Mas a cadeira está vazia!
CLOSE UP: Cadeira
A cadeira não tem nada, está vazia.
Enquadra os três personagens, astrobaldo de frente para a câmera.
Jorge ri euforicamente, Sei Não e Astrobaldo não conseguem entender. Sei Não olha para Astrobaldo fazendo sinal com o indicador girando ao redor do ouvido.
JORGE
(nunca para de rir)
Meu irmão... velho,vocês são pirados!
SEI NÃO
Oxe, pirados porque, Jorge?
JORGE
Vocês não estão entendendo?
ASTROBALDO
Eu mesmo, não.
SEI NÃO
E nem eu, explica aí.
JORGE
vocês estão subvertendo toda a noção estética da arte. Isso é do caralho!
SEI NÃO
Pronto, se prepare que baixou o filósofo nele. Vai viajar na maionese pelo resto do dia agora.
JORGE
Cara, pensa comigo: a música é formada de quê?
SEI NÃO
Você quer tirar uma onde com gente, né.
JORGE
Onde o que, Sei Não, me responde.
SEI NÃO
Você andou cheirando Rexona?
JORGE
Tô sem brincadeira, vai fala logo!
ASTROBALDO
Êêê, agora pronto. A música é formada de sona, né sabichão.
JORGE
Som e mais o que?
SEI NÃO
Fala logo sabichudo, ninguém aqui está entendendo onde você quer chegar.
JORGE
(ar de professor tentando ser o máximo didático possível)
Música é formada por sons e silêncios, entenderam? não é apenas sons, também tem os silêncios, as pausas...
ASTROBALDO
Sim mas... e daí?
SEI NÃO
É, onde você quer chegar com tudo isso?
Astrobaldo muda a feição de repente e começa a ficar gradualmente nervoso e agitado enquanto a conversa prossegue.
JORGE
(empolgado)
Já vi música sem pausas, que tem apenas ossons, mas nunca vi... (perde empolgação e percebe o desconforto de Astrobaldo. fala com ele)... você está bem?
ASTROBALDO
(visivelmente nervoso)
Nada não...
SEI NÃO
Sim, continue.
JORGE
Você já viu alguma música que tenha somente pausas?
SEI NÃO
Mas como seria uma música sem som?
Astrobaldo está extremamente nervoso, muito inquieto, devagar vai afastando a cadeira e tentando se levantar.
JORGE
Pode ser qualquer som, qualquer coisa que sua imaginação quiser criar. É o vazio, cara! Na nossa cabeça a ausência de informação é a presença de todas as formas, a matéria prima de tudo. Não existe mais aquele condicionamento sonoro que...
Astrobaldo foge repentinamente, sai correndo, derrubando cadeiras e atropelando pessoas. Jorge e Sei Não ficam assustados mas permanecem no mesmo lugar, apenas observando a fuga com os olhos. Um olha para o outro, sem saber o que falar.
Cena 28
Astrobaldo está deitado na cama, de bruços, com o travesseiro sobre a nuca, chorando copiosamente. Jorge e Sei Não chegam e sentam na beirada da cama. Jorge está mais próximo da cabeceira.
JORGE
Que foi cara, você fugiu tão de repente...
Astrobaldo não responde nem pára de chorar.
SEI NÃO
Pode se abrir, agente está aqui pra ajudar.
Astrobaldo continua chorando. Jorge fica inquieto, começa a perder a paciência. Levanta-se e anda de um lado para o outro do quarto. Sei Não se aproxima da cabeceira e tenta consolar Astrobaldo.
JORGE
Essa agora...
SEI NÃO
O que aconteceu, cara, confie na gente.
Astrobaldo continua chorando. Jorge perde o que sobrou da paciência.
JORGE
(explosivo)
Seja homem, porra! pare de chorar e desembuche logo!
SEI NÃO
Pera aê Jorge, não tá vendo que o cara está detonado? se não ajuda tente não piorar.
Astrobaldo se vira.
ASTROBALDO
(Enquanto conversa vai se levantando até ficar sentado)
Ele diz isso porque não está correndo risco de vida!
Sei Não e Jorge ficam surpresos com a revelação.
SEI NÃO
(voz de surpresa e dúvida)
E quem quer te matar, cara?
ASTROBALDO
O Alemão, o Alemão estava lá. Ele não gosta de mim, jurou que um dia iria me esmagar como quem mata barata.
JORGE
E porque você não foi na Polícia?
ASTROBALDO
Acha que não tentei? Eles são todos assim ó (esfrega os dedos indicadores das duas mãos), tudo máfia. O Alemão é de menor, ninguém pode prender. Quando contei minha história eles riram de mim, o delegado mandou eu me foder e teve um soldado que queria me bater. Nunca me senti tão exposto ao ridículo! Como você acha que eu vou confiar na justiça?
JORGE
Ahhh, você tem que dar um geito nesse cara. Conheço um brother que pode arranjar umas paradas...
SEI NÃO
Já vem você querendo mais violência, né Jorge. Vamos pensar numa solução pacifista, pô.
JORGE
(debochando de Sei Não)
Agora fudeu! Porque você não vai lá conversar com o cara? chega lá e diz (simulando uma voz feminina): meu querido amigo Astrobaldo disse pra você não matar ele...
SEI NÃO
Sai daqui, vai. Se não quer ajudar então tmbém não atrapalha.
Jorge sai do quarto, inconformado. Astrobaldo deita o rosto no ombro de Sei Não e volta a chorar. Sei Não consola ele.
SEI NÃO
Calma amigo, agente vai achar uma saída.
FX: Aparelho de som tocando em alto volume.
SEI NÃO
(irritado, gritando imperativo)
Porra Jorge, desliga esse som!
Cena 29
FX: Continua o som em alto volume
Jorge está dançando uma música em alto volume. Sei Não entra e simplesmente desliga o aparelho.
SEI NÃO
Qualé, Jorge. O cara lá em cima na maior deprê e você nem tem consideração.
JORGE
E você quer que eu faça o que? que fique aqui sem fazer nada?
SEI NÃO
Ah, sei lá, vai dar uma volta.
Clique aqui e veja os detalhes do roteiro
Como foi filmada a primeira cena
Diário de produção: Gravações da primeira cena
Planejamento da cena
Para o espectador a realidade está resumida naquilo que aparece no vídeo, os elementos gravados pela câmera e posteriormente modificados em um processo de edição. Nada do que está ao redor interessa, desde que se tome o cuidado de montar uma seqüência lógica de imagens que seja coerente com a experiência do espectador.
O roteiro de Sonoro Silêncio foi montado em um processo de debate e reflexão, onde cada cena foi pensada dentro dos limites técnicos e financeiros da equipe. Nossa proposta sempre foi a de usar o mínimo possível de dinheiro, porque esse é o item mais difícil de conseguir. Nossa estratégia é a de trabalhar com a colaboração mútua entre pessoas que participam do projeto ou que se identificam com ele.
Enquanto debatíamos a primeira cena fomos percebendo que ela deveria ser filmada no palco do Paulo Afonso Folia, porque não existe outro evento com a mesma estrutura e estimativa de público. A idéia era aproveitar o show de uma das bandas principais do evento para filmar o público agitando, e depois, com as cortinas fechadas, filmar nossos atores encenando a apresentação. Um jogo de imagens misturando as cenas dos atores e do público daria a impressão de que a platéia estava agitando para nosso personagem.
Para trabalhar sem dinheiro e sustentado apenas na colaboração de pessoas você tem de ser muito flexível, bem relacionado, desenrolado e ter boa capacidade de improvisação. Havíamos conversado com o pessoal da prefeitura na semana anterior ao evento, e não houve resistência em conseguir autorização para fazer as imagens. Eu já sabia que não poderíamos mexer muito no palco, mas não era necessário, porque tudo o que precisávamos era de um visual que deixasse claro para o espectador que o personagem estava em um evento de grande porte. A única coisa que precisaria estar funcionando era a iluminação.
Do nosso lado, todos já havíamos tido alguma experiência com palco pequeno, mas ninguém sabia de verdade como funcionavam os bastidores de um show de grande porte. Essa informação não apareceria no filme, mas influenciava todo o trabalho de obtenção das imagens e portanto era crucial.
O show de uma banda renomada geralmente ultrapassa o valor de dois carros populares 0 Km, nada pode dar errado. Uma parte dos equipamentos e apetrechos do palco são responsabilidade da organização do evento e a outra é colocada pela banda, mas via de regra a banda determina tudo o que vai acontecer durante o show, desde disposição dos elementos até a configuração do som e iluminação. Nada acontece no palco sem que eles dêem autorização. Ter o direito de chegar no local era apenas a primeira parte, teríamos também que convencer a produção da banda a nos permitir trabalhar.
As gravações não teriam quase nada de especial, seriam em sua maior parte a dublagem de um playback. Na semana do evento conversei com Chuck e decidimos colocar uma banda inteira encenando, para criar um clima de maior realismo. Escolhemos a banda Age of Fear para trilha sonora porque tinha músicas com solos de guitarra muito virtuosos, evidenciando a habilidade do guitarrista. Eu fiz uma edição de áudio utilizando duas músicas, onde retirei o vocal e deixei apenas a passagem dos solos. Convidamos Saulo Henrique (ex Menntes Diver-Genntes) para dublar o baixo, Deiveson Feitosa (chuveiro Elétrico) para dublar a guitarra base e Maizena (Chuveiro Elétrico) para assumir a bateria.
No texto original, o personagem tocava no show e depois se jogava para a platéia, então cortaríamos a imagem e mostraríamos a cena 2, onde ele caía no chão do quarto, deixando claro que tudo não se passava de um sonho. Na semana anterior eu tinha feito um desenho descrevendo a seqüência (storyboard), que foi entregue ao pessoal da prefeitura. Mostrei também a toda a equipe e a alguns amigos, mas o curioso é que ninguém me perguntou como diabos filmaríamos o pulo. O palco do Paulo Afonso Folia fica a cerca de dois metros do chão, não é uma altura boa para aterrissar sem amortecimento. E no desenho que fiz ele se jogava realmente em cima da platéia. Uma solução fácil era chegar cedo e parar um caminhão na frente do palco, fazendo o ator se jogar em um colchão colocado na carroceria, mas nós não tínhamos onde conseguir o veículo.
Chuck é cantor, tem boa presença de palco e é desenrolado, mas não entende nada de guitarra. O personagem é um guitarrista que no sonho tem projeção, ou seja, naquela cena em particular ele é um sujeito que sabe dedilhar muito bem o instrumento. E a trilha sonora estava a altura, os solos eram realmente rápidos. Nestas condições uma imagem de frente, que mostrasse os movimentos das mãos de Chuck, não iria convencer. Poderíamos filma-lo de longe, evitando os detalhes, mas eu achava que a seqüência perderia realismo. Conversei com Chuck e decidimos convidar Deiveson para dubla-lo em plano fechado (close), mostrando apenas as mãos. Ambos têm cor de pele muito parecida, bastava que usassem a mesma roupa. No entanto, os braços de Chuck são mais peludos do que os de Deiveson, e as pessoas poderiam notar. Resolvemos isso utilizando uma camisa de manga comprida.
A equipe se reuniu três dias antes do evento para debater os trabalhos. Estávamos eu, Chuck, Deiveson e Driele. Eu pressupunha que a banda principal do evento chegaria cedo e faria todo o processo de ajuste dos equipamentos, voltando ao palco na hora do show. Também imaginava que teríamos muito espaço físico para fazer as imagens.
Como todo o resto da cena era fácil, nos concentramos na seqüência do pulo. A minha idéia era colocar um colchão no palco e enganarmos o espectador, trabalhando os ângulos de câmera e fazendo uma edição inteligente das imagens. Chuck não gostava da idéia, achava que esta história de ângulos simplesmente não passariam a idéia de que ele pulava do palco. Na verdade, ele tinha espalhado para todo mundo semanas antes que a cena seria mais ou menos assim:
"Astrobaldo está no camarim, esperando a hora de entrar. A platéia está ansiosa pela apresentação, o local está lotado de gente. Astrobaldo não agüenta a expectativa e vai para o palco, chega até a cortina e olha por ela para ver as pessoas"
Depois cortaríamos para a cena 2 e o ato de abrir a cortina seria confundido com ele tirando o lençol do rosto e caindo da cama. Mas isso não tinha nada a ver com o roteiro, e eu sinceramente achei esta seqüência muito pobre, perderia o impacto de ver o público agitando enquanto ele tocava. Debatemos bastante e chegamos a uma terceira alternativa: Astrobaldo tocaria, mas no meio do show ele se enrolaria com o cabo da guitarra e cairia. Eu achava que esta seqüência combinava mais com o perfil do personagem do que as outras duas, mas decidimos filmar todas as três e ver depois qual ficava melhor.
A primeira tentativa
Marcamos para chegar no local às 18h00. Nosso trabalho estava planejado para durar 20 minutos, estourando uma hora, mas resolvemos reservar outras duas horas para os contratempos. Todo mundo tem problemas, mas se você não tem dinheiro a probabilidade de alguma coisa dar errado cresce exponencialmente. Começamos por não termos arrumado uma filmadora de verdade. Driele tinha duas máquinas fotográficas digitais muito boas e eu tinha uma tão ruim que não valeria apena utilizar. A qualidade de filmagem das máquinas de Driele não faziam vergonha, e se filmássemos duas vezes com duas máquinas teríamos quatro ângulos de imagem, então resolvemos utiliza-las.
Quando chegamos a banda principal ainda estava na estrada, e ninguém sabia dizer que horas eles chegariam na cidade. Aproveitei para conversar com o pessoal da iluminação e do som. Pecisávamos das luzes piscando para dar um clima de show, e do nosso playback tocando no retorno mas sem sair pelas nas caixas da frente. O palco não estava arrumado, tinha apenas uma bateria desmontada e algumas caixas de som. Teríamos de esperar a banda chegar, arrumar tudo, passar som, testar equipamentos e aí sim, se desse tempo e tivéssemos autorização, filmaríamos. A equipe ficou o tempo todo esperando na avenida, conversando e comendo bolachas recheadas com refrigerante.
A banda da noite era o Biquini Cavadão. Procurei o produtor deles, e ele me pediu para esperar. Muito tempo depois me chamou, e disse que não ia dar, estavam atrasados e ainda tinham que voltar a Salvador na mesma noite para pegar um avião na manhã seguinte. Me pediu desculpas por não poder ajudar e autorizou que ficássemos no palco para fazer imagens do público durante o show.
Chamei todo mundo e avisei o que tinha acontecido. O pessoal foi curtir a festa, mas Driele e Chuck aceitaram subir no palco para fazer as imagens. Eu ficaria para dar suporte caso houvesse algum problema. Na hora de filmar Chuck sumiu e eu tive que assumir uma das câmeras.
Tentando mais uma vez...
O pessoal da prefeitura prometeu que no dia seguinte ia colocar a cortina. Marcamos de chegar um pouco mais tarde desta vez. O palco estaria à disposição da Margareth Menezes, que é da Bahia e provavelmente chegaria cedo, mas não víamos a necessidade aparecer antes das 20h00. Apenas eu precisava chegar antes, para fazer as articulações e deixar tudo "no gatilho".
O primeiro problema que encontrei foi a ausência da cortina. Me preocupava a reação dos atores ao simular uma apresentação na frente de 35 mil pessoas, com quase todo mundo que eles conhecem lá embaixo assistindo. Pior foi quando subi no palco e vi a estrutura da Margareth. Nosso personagem é um roqueiro frustrado, que na cena toca Heavy Metal. A Margareth é cantora de axé, que dança o show inteiro e precisa de espaço.
A configuração de um palco de rock é extremamente diferente de um palco de axé. Num palco de rock a bateria fica no meio, logo atrás dos músicos, junto com algumas caixas de som, e tem caixas de retorno na frente. Os músicos de rock geralmente sabem tocar e cantar, por isso se movimentam pouco e é comum usarem pedestais para os microfones. O som da Margareth é sustentado na percução, ela se movimenta muito, tem dançarinas e não toca instrumento algum.
Para as nossa filmagens, a configuração do palco era a pior possível: uma lona branca no fundo refletia toda a luz da frente, que já não era pouca. A percução estava no meio, com a bateria colocada de lado. Da metade para frente não tinha mais nada, esconderam até mesmo as caixas de retorno. A Margareth ia cantar com microfone sem fios, não precisava de pedestal. Sinceramente, aquilo não parecia nem de longe com um palco de rock, não tinha muitos ângulos para esconder os instrumentos, a iluminação não disfarçaria nada porque estava tudo muito claro, e o espectador iria sentir falta daqueles elementos básicos de um palco tradicional. Conversei com o produtor da banda e ele me colocou uma série de restrições, inclusive proibiu que usássemos a bateria.
Eu estava com vontade de perder esta noite e deixar para gravar na seguinte, com o palco da banda Eva. Mas seria uma decisão arriscada, porque se algo desse errado não teríamos outro dia para gravar. Procurei a organização do evento e descobri que Silvinho, músico da cidade, tocaria depois da Margareth e não se importava de nos ceder o espaço, inclusive colocou a banda dele à disposição para encenar. O maior problema era que eles se apresentariam lá pelas duas da manhã, e eu temia que a equipe não quisesse passar a noite toda trabalhando, ou que nesse meio tempo alguém se embriagasse. Na verdade, se houvesse disposição da equipe e Silvinho terminasse de tocar antes de amanhecer nós poderíamos montar o palco do nosso geito e fazer as melhores imagens.
Procurei a equipe para conversar. Deiveson adiantou logo que não poderia ficar até depois das 22h00. Maizena nem apareceu. Saulo se prontificou, Driele e Chuck também. A idéia era filmar no palco da Margareth em contra-plogée (de baixo para cima) por garantia, mostrando somente o que estava acima da cintura dos atores. Isso ia disfarçar os elementos do palco, mas não dava para ter mobilidade e as imagens ficariam muito pobres. Tentaríamos uma segunda vez depois do show da Margareth e se tudo desse errado pediríamos o palco depois do show do Silvinho. Na última hipótese ainda tínhamos o palco da banda Eva no outro dia.
Quando fizemos as primeiras imagens Driele ainda não tinha chegado e eu operei a câmera. Avisei a todos que estavam no palco que faríamos a encenação, mas não dissemos nada para o público. O mesário de som não quis colocar nosso playback para tocar nos retornos, e usamos um pen drive com fones de ouvido. O barulho externo era enorme, não dava para entender muita coisa mas funcionou razoavelmente.
Para conciliar as imagens com a configuração do palco decidi não mostrar os componentes da banda tocando juntos, fizemos as tomadas de cada ator um por um para depois juntarmos na edição. Deiveson e Saulo fizeram esta primeira seqüência quase parados, mas Chuck usou quase todo o espaço disponível e eu consegui boas imagens posicionando a câmera em um ângulo que pegava a partir da coxa dele, mostrando ao fundo as cabeças do público que estava mais longe e disfarçando a ausência dos retornos que, subentende-se, ficariam abaixo da linha de visão. Já tinha uma quantidade considerável de gente na rua, mas ninguém estava muito preocupado com o palco principal e não tivemos incidentes. Acho que fomos confundidos com o pessoal da banda passando o som.
Enquanto esperávamos Margareth tocar mostrei as imagens a Chuck, e ele pôde avaliar a própria performance. Depois fui providenciar um cubo para tocar nosso playback, já que na próxima tomada encenariam Saulo e Chuck ao mesmo tempo e precisávamos de um áudio em comum. Finalmente a Margareth saiu do palco, a equipe dela desmontou a estrutura e entrou o pessoal de Silvinho. No meio desta correria, conversei com ele e fiquei sabendo que o tempo estava apertado, não ia dar para fazer as imagens. Insisti e ele liberou alguns minutos.
Entramos correndo e filmamos com a equipe de Silvinho ainda montando as coisas. Na correria, esqueci de avisar o que estávamos fazendo, e como as pessoas esperavam a próxima banda, a atenção estava voltada para o palco principal. O trio elétrico tinha acabado de passar e o público que estava lá embaixo não era fã de rock. Driele assumiu a câmera, eu saí da cena, Saulo se movimentou muito pouco. Chuck incorporou um rockeiro e dançou feito louco, pulou, bateu cabeça, fez performances invejáveis. Os auto falantes do palco estavam desligados, o som do trio tocava pagode e era tão forte que não dava para escutar nosso playback. A platéia não entendia nada do que estava aconcetendo, e os mais afoitos começaram a falar palavrões. Alguém jogou uma lata de cerveja no palco. Nossa sorte foi que o locutor pegou o microfone e avisou ao público que estávamos fazendo um filme.
Coletamos boas imagens. Ao invés de quatro ângulos de câmera ficamos com apenas um. Ao todo, foram quase doze horas de trabalho sem considerar a escrita do roteiro, planejamento e edição. A seqüência depois de editada, incluindo os créditos, logomarcas e passagens em preto, não dura mais do que dois minutos e quarenta segundos. A cena mesmo, aquilo que interessa para o filme, tem apenas um minuto e meio.
Clique aqui e veja os detalhes do roteiro