quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Cenas 26 a 29

Cena 26

Master: câmera na calçada oposta ao restaurante. Astrobaldo Sei Não e Jorge atravessam a rua, entram no estabelecimento e se sentam em uma das mesas.

Cena 27

Astrobaldo, Sei Não e Jorge estão sentados na mesa, esperando servir o almoço. O restaurante tem mais de uma porta de acesso. Astrobaldo está de frente para a câmera e para uma das entradas do estabelecimento. Há uma outra porta ao lado ou atrás de Astrobaldo, em posição visível para a câmera. Sei Não está sentado à direita do vídeo, de frente com jorge que está do lado esquerdo. A mesa ao lado da mesa em que estão sentados, do lado onde Jorge está sentado, está vazia e desarrumada, com uma ou mais cadeiras recuada. Jorge está confuso e inquieto. Um dos funcionários do restaurante se aproxima.

Funcionário do restaurante

O que vocês vão comer?

SEI NÃO

Traz três PF e uma garrafa com água.

FUNCIONÁRIO DO RESTAURANTE

(sem geito de perguntar)

he...humm...Isso aí é uma camisa de força?

SEI NÃO

(enfático, certo do que está falando)

Roupa social, última moda em Paris!

O funcionário se retira, muito desconfiado.

JORGE

Vocês querem mesmo montar esta banda?

SEI NÃO

O que foi, Jorge? vai começar de novo?

ASTROBALDO

Cara, nós temos talento! talento não é pra ficar guardado não, velho, temos que mostrar para o máximo de pessoas possível.

JORGE

Mas vocês simplesmente não são uma banda!

ASTROBALDO

Pronto! lá vem ele de novo com aquela história dos instrumentos que não existem...

JORGE

Qualé, vai me dizer que você tem uma guitarra?

ASTROBALDO

E aquilo ali é o que?

Astrobaldo aponta para uma mesa que está ao lado de Jorge, recuada.

A câmera gira para enquadrar jorge e a outra mesa.

Há uma guitarra encostada na cadeira. Jorge olha para a cadeira.

CLOSE UP: Jorge, de frente

Jorge começa a rir, compulsivamente.

JORGE

Mas a cadeira está vazia!

CLOSE UP: Cadeira

A cadeira não tem nada, está vazia.

Enquadra os três personagens, astrobaldo de frente para a câmera.

Jorge ri euforicamente, Sei Não e Astrobaldo não conseguem entender. Sei Não olha para Astrobaldo fazendo sinal com o indicador girando ao redor do ouvido.

JORGE

(nunca para de rir)

Meu irmão... velho,vocês são pirados!

SEI NÃO

Oxe, pirados porque, Jorge?

JORGE

Vocês não estão entendendo?

ASTROBALDO

Eu mesmo, não.

SEI NÃO

E nem eu, explica aí.

JORGE

vocês estão subvertendo toda a noção estética da arte. Isso é do caralho!

SEI NÃO

Pronto, se prepare que baixou o filósofo nele. Vai viajar na maionese pelo resto do dia agora.

JORGE

Cara, pensa comigo: a música é formada de quê?

SEI NÃO

Você quer tirar uma onde com gente, né.

JORGE

Onde o que, Sei Não, me responde.

SEI NÃO

Você andou cheirando Rexona?

JORGE

Tô sem brincadeira, vai fala logo!

ASTROBALDO

Êêê, agora pronto. A música é formada de sona, né sabichão.

JORGE

Som e mais o que?

SEI NÃO

Fala logo sabichudo, ninguém aqui está entendendo onde você quer chegar.

JORGE

(ar de professor tentando ser o máximo didático possível)

Música é formada por sons e silêncios, entenderam? não é apenas sons, também tem os silêncios, as pausas...

ASTROBALDO

Sim mas... e daí?

SEI NÃO

É, onde você quer chegar com tudo isso?

Astrobaldo muda a feição de repente e começa a ficar gradualmente nervoso e agitado enquanto a conversa prossegue.

JORGE

(empolgado)

Já vi música sem pausas, que tem apenas ossons, mas nunca vi... (perde empolgação e percebe o desconforto de Astrobaldo. fala com ele)... você está bem?

ASTROBALDO

(visivelmente nervoso)

Nada não...

SEI NÃO

Sim, continue.

JORGE

Você já viu alguma música que tenha somente pausas?

SEI NÃO

Mas como seria uma música sem som?

Astrobaldo está extremamente nervoso, muito inquieto, devagar vai afastando a cadeira e tentando se levantar.

JORGE

Pode ser qualquer som, qualquer coisa que sua imaginação quiser criar. É o vazio, cara! Na nossa cabeça a ausência de informação é a presença de todas as formas, a matéria prima de tudo. Não existe mais aquele condicionamento sonoro que...

Astrobaldo foge repentinamente, sai correndo, derrubando cadeiras e atropelando pessoas. Jorge e Sei Não ficam assustados mas permanecem no mesmo lugar, apenas observando a fuga com os olhos. Um olha para o outro, sem saber o que falar.

Cena 28

Astrobaldo está deitado na cama, de bruços, com o travesseiro sobre a nuca, chorando copiosamente. Jorge e Sei Não chegam e sentam na beirada da cama. Jorge está mais próximo da cabeceira.

JORGE

Que foi cara, você fugiu tão de repente...

Astrobaldo não responde nem pára de chorar.

SEI NÃO

Pode se abrir, agente está aqui pra ajudar.

Astrobaldo continua chorando. Jorge fica inquieto, começa a perder a paciência. Levanta-se e anda de um lado para o outro do quarto. Sei Não se aproxima da cabeceira e tenta consolar Astrobaldo.

JORGE

Essa agora...

SEI NÃO

O que aconteceu, cara, confie na gente.

Astrobaldo continua chorando. Jorge perde o que sobrou da paciência.

JORGE

(explosivo)

Seja homem, porra! pare de chorar e desembuche logo!

SEI NÃO

Pera aê Jorge, não tá vendo que o cara está detonado? se não ajuda tente não piorar.

Astrobaldo se vira.

ASTROBALDO

(Enquanto conversa vai se levantando até ficar sentado)

Ele diz isso porque não está correndo risco de vida!

Sei Não e Jorge ficam surpresos com a revelação.

SEI NÃO

(voz de surpresa e dúvida)

E quem quer te matar, cara?

ASTROBALDO

O Alemão, o Alemão estava lá. Ele não gosta de mim, jurou que um dia iria me esmagar como quem mata barata.

JORGE

E porque você não foi na Polícia?

ASTROBALDO

Acha que não tentei? Eles são todos assim ó (esfrega os dedos indicadores das duas mãos), tudo máfia. O Alemão é de menor, ninguém pode prender. Quando contei minha história eles riram de mim, o delegado mandou eu me foder e teve um soldado que queria me bater. Nunca me senti tão exposto ao ridículo! Como você acha que eu vou confiar na justiça?

JORGE

Ahhh, você tem que dar um geito nesse cara. Conheço um brother que pode arranjar umas paradas...

SEI NÃO

Já vem você querendo mais violência, né Jorge. Vamos pensar numa solução pacifista, pô.

JORGE

(debochando de Sei Não)

Agora fudeu! Porque você não vai lá conversar com o cara? chega lá e diz (simulando uma voz feminina): meu querido amigo Astrobaldo disse pra você não matar ele...

SEI NÃO

Sai daqui, vai. Se não quer ajudar então tmbém não atrapalha.

Jorge sai do quarto, inconformado. Astrobaldo deita o rosto no ombro de Sei Não e volta a chorar. Sei Não consola ele.

SEI NÃO

Calma amigo, agente vai achar uma saída.

FX: Aparelho de som tocando em alto volume.

SEI NÃO

(irritado, gritando imperativo)

Porra Jorge, desliga esse som!

Cena 29

FX: Continua o som em alto volume

Jorge está dançando uma música em alto volume. Sei Não entra e simplesmente desliga o aparelho.

SEI NÃO

Qualé, Jorge. O cara lá em cima na maior deprê e você nem tem consideração.

JORGE

E você quer que eu faça o que? que fique aqui sem fazer nada?

SEI NÃO

Ah, sei lá, vai dar uma volta.

Jorge sai, inconformado. Sei Não volta para o quarto.

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